MISTURA

Da janela do hotel Ivan olhava a vida acontecer e pensava sobre muitas coisas:

Quem era aquela mulher que vinha apressada arrastando os dois meninos pelas mãos? De onde vinha, para onde ia? Qual o seu tormento e qual a sua satisfação?

E aquele casal de namorados que pareciam tão felizes andando de mãos dadas naquela praça. Quais os sonhos povoavam aquelas duas mentes?

O homem de terno parecia um advogado indo para um tribunal. Tinha a tensão nos passos e o medo no rosto.

O rapaz alegre parecia esperar ansioso pela noite de sábado que se avizinhava. Farras, comidas bebidas, namoros. Parecia abraçar a vida nos passos largos e decididos.

A mocinha de cabeça baixa parecia estar deprimida. Qual seria sua desilusão? Faleceu alguém que ela amava? Perdeu o amor da sua vida?

O Homem do carrinho de cachorro quente parecia alegre com o movimento. Estava com a expressão da ambição estampada no rosto.

Na porta da igreja fieis chegavam para a missa da tarde. A fé conduzia seus passos. Quais as esperanças e os pedidos contidos em cada oração?

De um pedinte, mesmo de longe pudera captar os olhos tristes e desanimados.

Alguns iam devagar outros apressados. Alguns felizes outros infelizes. Sorrisos, lágrimas, ódio, amor. Um leque de possibilidades...

Será que adivinhara? Ou tudo era mera especulação?

Não, nada sabia. Apenas cogitações. O que está por dentro é segredo, mistérios...

Só poderia mesmo perguntar. Perguntas sem respostas

Quais segredos se escondem por trás dos passos, dos olhares, das expressões faciais? Em que mares a alma navega? Voa por céu azul ou enfumaçado? O que está escondido no âmago de cada ser? O que dá animo ou desânimo ao viver?

Cada um com sua história, seus medos e seus horrores. Cada vida uma mistura de delicias, doces e amargos sabores...

Mal sabia ele que lá de baixo alguém pensava: - Quem será aquele homem na janela do hotel, o que sente, o que pensa? De onde veio... para onde vai?