Só e bem
Algumas coisas valem a pena, como sentar-se à mesa do café e ficar demorando até bem mais tarde do que necessário, sem pressa de ir a nenhum lugar. Ou conversar por longas horas com alguém que te ouça com os ouvidos da alma. Ficar em silêncio e à vontade ao lado de uma pessoa, seja ela quem for, é uma das maiores preciosidades da vida.
Quantas vezes precisamos nos disfarçar ou suprimir nossas reais emoções com medo do que aquela pessoa que convive ao nosso lado vai pensar ou como ela vai reagir? E quantas vezes precisamos nos esforçar para preencher o silêncio com alguma coisa, uma conversa banal, um comentário qualquer sobre um assunto aleatório.
É incômodo não podermos nos manter em silêncio na companhia de alguém, mas acredito que é muito mais incômodo não conseguir se manter em silêncio na sua própria companhia. Quão insuportável e triste deve ser para aqueles que simplesmente não conseguem, não sabem o que é experimentar desse prazer de demorar-se em casa,em um dia preguiçoso, adiando os compromissos e as interações apenas para usufruir um pouco mais da própria solitude.
Triste também deve ser não conseguir ouvir a si próprio com os ouvidos da alma. E normalmente isso ocorre porque nem sempre o que temos a dizer de mais sincero é agradável.
Creio que para sermos uma boa companhia para nós mesmos e apreciar nossa própria presença é necessário que entendamos que nem sempre vamos ser silenciosos e agradáveis, organizados e harmônicos.
Mas se somos capazes de nos desnudar das aparências para algumas pessoas queridas e ficar verdadeiramente à vontade ao lado delas, é totalmente possível que façamos o mesmo quando estivermos a sós: sem medo de desagradar, sem medo dos julgamentos, sem medo de sermos imperfeito.