BURRICE CONTAGIOSA

O sujeito pode ser muito esperto, jurista, economista, político, cientista sábio, não interessa, mas não escapa da possibilidade de ser "burro". Um filósofo brilhante, um escritor habilidoso, criativo e dominador do vernáculo podem cometer as maiores atrocidades contra a inteligência. Não vou dar exemplos de absoluta inadequação para não cometer injustiças. Deixo também bem claro que me considero, no máximo, mediano e meus amigos são meus amigos, portanto, estão fora desta crítica, com ou sem merecimento. Vou comentar algo até risível, banal, para não invocar grandes nomes, mas o notável Jô Soares, tão brilhante em artes, teatro, música, televisão e em certas páginas literárias, falando várias línguas, era abaixo da crítica quando enveredava no campo da economia, da política, do direito ou, mesmo, do futebol. De doer. Parece-me que é um exemplo mais simples e claro para tudo quanto enunciei. Não pretendo lançar dúvidas quanto aos proeminentes, que méritos possuem, mas apenas dizer que inteligência é coisa mais ampla, sem fronteiras, não suscetível a quaisquer apropriações fanáticas, radicais ou mais exaltadas. Inteligência não tem dono, partido, ideologia, religião ou cor: é algo simples, constante, que o sujeito tem ou não, podendo até evoluir. Se eu a tivesse, não seria um Paulo Coelho nadando em ouro na Suíça, por suas obras, talvez nem escrevesse na internet, dedicando-me a outros afazeres mais elevados. Seja como for, abaixem o facho, alguns não estão com toda aquela bola que julgam ter, mesmo que valorosos. Agora, convenhamos, não é necessário argumentar muito para detectar o avanço descomunal da burrice faceira que se percebe na atualidade em várias áreas e manifestações, inclusive nas coisas mais rasteiras do dia a dia. Acabo de ler no Estadão, que Cibele Florêncio (de Macaíba-RN), faxineira, é uma das maiores enxadristas do Brasil, regressando recentemente da Polônia em que disputou certame mundial enxadrístico em Varsóvia. Durante o dia, faz faxina e bicos no comércio de marmitas da mãe. Voltando a um dos quadros antigos do JÔ: “Me tira o tubo”.