A Protagonista Preferida
Sempre fui a protagonista da minha história, embora ficasse por muito tempo sem saber dessa verdade. Sou aquela personagem típica de um romance-drama — o Riobaldo (numa versão mulher, claro!). Conto as coisas tudo misturado. Às vezes, as pessoas não entendem ou ficam confusas com o meu emaranhado. Você já leu o “Grande: Sertão Veredas”, do Guimarães Rosa? Pois bem, se sim, vai entender o que digo.
Sou faladeira bem nordestina. Falo de amor, alegrias, tristeza, de coisas difíceis e engraçadas.
Tudo o que acontece na nossa vida sempre traz uma lição!
Uma grande história tem ingenuidade e simplicidade. A beleza sempre estará nos olhos de quem vê. A maldade, também. O meu enredo tem tudo isso e parece com aqueles do século XIX, difícil, triste, intenso, bonito e sentimental. Parece-me que algo forte e grandioso sempre é doloroso e difícil de construir. Imagine escrever uma em um livro. É, estou escrevendo-a! Às vezes algo que parece ser tão simples é difícil demais de conseguir chegar lá. Ei, peraí, é possível!
Os caminhos trilhados para se chegar ao topo de uma montanha são íngremes, tortos, com altos e baixos, e, consequentemente, trago muita emoção na mala e uma grande alegria no coração. A imaginação fértil leva ao conhecimento único.
Vivo em uma montanha-russa de sentimentos. Aqui, nessa dialética, se encontra o meu entendimento sobre tudo. Estou em transição: uma menina se tornando uma mulher. Como nos filmes de Amélie e de Malfada. Sou aquilo que quero ser: vulcânica no sentir, equilibrada no falar e reservada no demonstrar. Considero-me uma pessoa profunda, gosto dos lugares pacatos. O interior do meu interior. Prefiro localidades onde os pensamentos ganham voz. A delicadeza vem com o toque de fortaleza. Músicas, livros e poesias são as apreciações. Num dia, sou Legião Urbana, Los Hermanos. Nos demais, Gonzaguinha.
No silêncio tenho certeza daquilo que sou, pois aprendi a me conhecer. Embora tenha medo, sempre busco os desafios da vida. Escuto a minha voz interior. Sou autêntica. Valorizo a intimidade e o gosto do silêncio.
Descobrir quem sou? Talvez os mistérios que envolvem a resposta a essa pergunta causem medo e quem a faça sobre o que se pode descobrir de si mesmo. Desde criança, sempre fui uma pessoa pensadora e sonhadora. Meu sonho era ser uma escritora. Dizia-me que poderia ser aquela pessoa que “fala bonito” e é especialista em um determinado assunto.
Fechei-me no meio da Caatinga; criei o meu próprio mundo e ele começa lá no Agreste quente e seco de Pernambuco. O meu mundo é encantado. Sim! Teria que ser. Um escape da realidade que parece, às vezes, ser cruel. Isso me possibilitou criar uma personagem preferida. Adivinha: eu mesma. Essa necessidade de afirmar-se como protagonista pode ser uma forma de buscar pela superação constante.
Eu cá, não perco uma ocasião de ser teimosa. Aproveito todas as oportunidades para quebrar com a cara valendo. Isso sendo recorrente para aprender a lição mestra. Uma só, para mim, é pouca; talvez não me chame para os desafios. Como dizia o grande Guimarães Rosa: “Apesar dos contrários, quem elegeu a busca não pode recusar a travessia”. Com esse jeito de ser, sou chamada de “Marie Curie brasileira”, claro, ainda sem Prêmio Nobel. O meu estilo literário e direção ideológica foram formados no interior; sendo lapidados no meio da luta quando entro na universidade. O nosso pensamento parece ser às vezes maior que o poder do lugar de onde nascemos, por isso, se eterniza como universal.
Apesar de carregar uma história marcada pela pobreza, pela seca, pelas perdas familiares e amorosas, e pelos abusos sofridos, afirmo: como dizia o poeta Gonzaguinha: “Apesar dos pesares, sou feliz por ser brasileira”, entusiasmada com tudo que posso aprender com a vida, desde as coisas boas às difíceis e/ou ruins.
Considero-me uma pessoa realizada. A alegria está aqui. O que dizer da ternura que marca. A menina interiorana persiste em dizer que não aceita superficialidade. Além de ser melancólica. Aprecio a solitude. Busco a verdade. Acredito nos sentimentos, nas pessoas e na vida. Sou uma pessoa honesta com os meus valores, os meus princípios e as minhas vontades. Sei exatamente para onde quero ir. Sei de onde venho. Onde fica o solo do meu chão. Reconheço as minhas limitações e os meus defeitos. Antes de qualquer coisa, entendo a mim mesma melhor que antes. Assim, encontro a atitude de recomeçar um novo dia.
Essa crônica foi publicada na Antologia: Perspectivas, Ilusões e Contentamentos, da editora Sinete, ano de 2023.