A Espada e o Perdão

O choro, apesar de abafado, pode ser ouvido pelo casal que atravessa a rua na escuridão da noite. O homem se aproxima do local e consegue perceber que é um soldado sentado no chão:

— Está passando mal?

O soldado do templo não consegue responder, pois a angústia provoca grandes soluços, calando sua voz. Ele apenas levanta as mãos ensanguentadas para mostrar ao homem:

— Ó, está ferido!

Surpreso com a ingenuidade de seu benfeitor ele reúne forças para falar:

— Não é meu sangue. Então não sabe do decreto do rei?

— Sim, ouvimos dizer.

— Eu cometi um crime. Um crime bárbaro. Era... era só um bebê... a mãe da criança chorou, implorou, pediu piedade, tentou ficar na minha frente, pediu que a levasse no lugar dele, mas meu superior não se comoveu e nos mandou cumprir a ordem do rei... eu... eu...

O soldado volta a chorar descontroladamente. O homem repousa a mão em seu ombro com delicadeza e olha para a esposa. Ela desce do burrinho e se aproxima do soldado levando seu Filho no colo.

O soldado se surpreende com o que vê:

— Vo-vocês não entenderam? Saiam daqui, andem, vão! Se os outros soldados os virem farão o mesmo com vocês!

Calmamente, a mulher aproxima o Menino do soldado, que estende o bracinho e toca seu rosto. Logo, uma sensação de paz inunda seu coração, ele para de chorar. A doce voz da Mãe também o encanta:

— Nós não temos medo desse rei, sabemos de suas ordens, mas o que nos importa é seu coração, seja fiel e serás recompensado. Não tema você também, pois a Justiça chegou no mundo para os homens de boa vontade.

Com um sorriso no rosto o marido ajuda o soldado a se recompor e chama pela esposa:

— Vamos Maria?

— Sim, José. — depois se volta para o soldado — A paz do Senhor esteja convosco.

Sem entender o que aconteceu, o soldado fica parado olhando a pequena família, sentada sobre um burrinho, desaparecer na escuridão da noite.