PIZZA GIGANTE COM COCA-COLA

De repente me deu um frio na barriga, enquanto eu caminhava na calçada do comércio do Parque Solon de Lucena “Lagoa,” em pleno centro comercial de João Pessoa a Capital paraibana. O súbito pico no meu estado emocional, fora causado pelos finos repicados do tilintar dos sinos e a sonorização das músicas natalinas. Isso me abrira a grande janela da memória, me mostrando que já era Natal.

Afastei-me um pouco do agitado “vai e vem” das pessoas, que num “entra e sai” das lojas, em meio as falsas promoções e os preços razoáveis, apressavam-se em fazer suas compras de Natal. Fui me assentar um pouco num banco no entorno do Parque. Ali fiquei contemplando a bela paisagem, composta pelo sereno espelho d’água, contornado pelas robustas palmeiras imperiais e os exuberantes Ipês Amarelos.

Pelas ruas de João Pessoa nessa época, pode-se observar a natureza fazer uma verdadeira disputa das arbóreas acácias, que trocam suas folhas pelos lindos e delicados ramalhetes amarelos, insultando os gigantes Ipês que por sua vez, contra-atacam com uma floral roupagem amarela. Isso contrasta com o azul do céu espelhado na Lagoa e forma uma verdadeira aquarela. Não é atoa que a cidade é intitulada a Capital das Acácias.

Nem vi as horas se passarem. Ao cair da tarde, observei passar um senhor de média idade com vestes solapadas pelo desgaste do uso, com aspecto de um pedinte e expressão de desânimo. Conduzia pela mão uma criança de talvez uns sete anos e na outra mão levava uma placa com uma rude escrita com a seguinte frase: “Peço uma ajuda para comprar comida”. Antes que o meu eu fizesse pouco caso daquela situação, lembrei-me das palavras do Mestre que diz: “Dá a quem te pedir e não te desvie daquele que quiser que lhe emprestes. Mateus 5:42”.

Me preparei e antes que aquele senhor me pedisse, me adiantei em dar a minha pequena contribuição para lhe ajudar. Ele recebeu e agradeceu. Depois saiu sem rumo, caminhando sem perspectiva alguma.

Enquanto acendiam-se as luzes natalinas do Parque, pude ver que a cinzenta cor daquelas vidas que desapareciam na distância, não mudava com o colorido daquele ambiente. Lembrei das encantadoras estórias de minha mãe que contava sobre as visitas do “Papai Noel” às crianças no Natal. Certamente o ilusório “Bom Velhinho” não visitaria aquela criança nesta noite de Natal. Provavelmente aquela criança teria um Natal sem presente e a sua Ceia deveria ser regada a “pão e água”.

Fiquei perdido nas indagações da mente. Por que tanta diferença entre a humanidade? Por que tanta disparidade entre os valores humanos? Por que os Direitos Humanos não davam direito aos humanos de uma digna qualidade de vida? Por que o egoísmo hostil do poder político erróneo, não se sensibiliza com a fome do miserável? Por que a tamanha negligência em ajudar o ser humano, para que ao menos tenha dignidade? Que sociedade é esta, que quanto mais o tempo passa, não enche a medida do ter dos poderosos e o tempo é visto como dinheiro? Lembrei do filme “O Preço do Amanhã” do Diretor/roteirista Andrew Nicol, em que a trama se dá com as pessoas que vivem até os vinte e cinco anos normalmente e quando param de crescer, lhes restam apenas um ano de vida, a não ser que tenham dinheiro e quem tem dinheiro vive e quem não tem morre. Aquela criança, não esperara nem crescer para pagar “O Preço do Amanhã”.

E a sabatina da minha mente foi interrompida pelo toque do meu celular, que quando atendi, era meu filho de uma idade parecida com aquele menino pedinte, me dizendo: papai, quando o senhor vier, traga aquela “Pizza Gigante com Coca-Cola” para a gente jantar. Eu quis cortar a voz ainda emocionado com a situação, mas segurei e respondi: Tudo bem filho, vou comprar e levarei quando eu for pra casa.

Anoitecera e a iluminada fonte no meio da Lagoa, jorrava ao som das belas sinfonias natalinas que me despertava e me puxava para a realidade, mesmo sem eu querer.

Que Deus abençoe o pedinte do Parque e os demais, para que haja menos desigualdade social, pão na mesa dos famintos e Paz entre os homens.

João Pessoa, Paraíba Brasil, em 07 de dezembro de 2021.

Antonio Joaquim Alves (Thiago Alves)

Colunista Social -ABCS

MTE - 2611-25

A Arte de Thiago Alves
Enviado por A Arte de Thiago Alves em 08/12/2021
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