ESCREVENDO PARA MIM MESMO

É texto ditado pelo aniversário chegando, em data símbolo, a meu juízo. Obviamente toda a redação tem o fito de congraçar, agradar pessoas, contribuir positivamente, notadamente compartilhando conhecimentos e experiências. Além de ser algum rastro nesta passagem mundana. É como fazer música, pintar, bailar, dar aulas ou cometer aventuras diversas. Vejam, escrevi quatro livros e, pelos meus cálculos, não muito mais de mil pessoas os leram, e muito poucos lembram. Tenho 748 textos publicados no site RECANTO DAS LETRAS, há vários anos, lidos por 21.330 pessoas, muitos deles com acesso “zero”, até um ou dois desavisados. Não me importo mesmo. Então, apesar deste meu arraigado gosto, acertei em ser advogado: a família, por certo, agradece. E eu mais ainda. Como me dizia o velho pai: “vai ser advogado, ganha teu dinheiro e, depois, escreve ou faz o que te der na telha”. Há um ditado gauchesco que diz: “primeiro o encargo, depois o amargo (nosso tradicional chimarrão)”. Mas o que me importa, agora, não é o fato de estar chegando a este estágio biológico ativo e tranquilo, mas haver juntado tantos amigos de idos tempos e distintas paragens numa página virtual que tem o calor do século XXI. Num tempo virtual, de tantas agruras e incertezas reais, isto é tão bom quanto um churrasco, fogo de chão, em campo aberto. A vida afunila para os mais veteranos, as amizades sucumbem ou se diluem em interesses múltiplos e ocupações. Só a navegação cibernética para reunir tanta gente boa. Escrever, neste contexto, é a comunicação maior. Tirante o convívio íntimo familiar e aquele eventual com alguns amigos, as coisas tenderiam ao esquecimento, com relações e certas lembranças muito anêmicas. Ninguém vence o fluxo implacável do tempo, mas a luta pela conservação é de vital importância. O homem é a memória. Enquanto vivo, quero lembrar os amigos e os fatos vividos, desejo compartilhar o que pude colher nos muitos anos. Se não conseguir plenamente, tudo bem, o texto vai me servir de apoio e alento. Que permaneça o acesso zero lá no Recanto das Letras.