MESMO DEPOIS DA MORTE, O SHOW PRECISA CONTINUAR

Os responsáveis que controlam a programação dos canais de televisão já entenderam que há uma mórbida curiosidade no ser humano que faz com que ele diminua a velocidade do carro ao passar por um acidente.

E é buscando satisfazer essa curiosidade mórbida que os programas de televisão têm uma forma especial de explorar a dor de uma tragédia, para transformá-la num espetáculo que mantenha os telespectadores com os olhos fixos na tela.

Desta forma, são chamados especialistas em engenharia aerodinâmica para dar explicações técnicas que não passam de meros palpites sobre um acidente aéreo; familiares são emparedados por microfones, sem qualquer respeito a dor do luto.

Antevejo que em breve os programas dominicais adotarão uma visão espiritualista diante de alguma tragédia que se abata sobre algum artista de grande apelo popular e resolva levar um médium espírita de grande badalação para o palco do programa para tentar contato com o artista recém desencarnado.

Consigo imaginar o diálogo entre o(a) apresentador(a) e o média, que seriam mais ou menos assim:

-Estamos todos consternados diante dessa tragédia. Assim como muitos fãs estamos com saudade, por isso trouxemos um médium que vai tentar contato com a nossa saudosa artista que nos deixou faz dois dias em um acidente aéreo.

-Pois bem -tenta explicar o médium-, ocorre que o desencarne dela é recente. Conforme explica a doutrina espírita, logo após a morte o espírita fica em estado de perturbação e nestes casos de acidente de avião e de carro, esse período de perturbação costuma ser um pouco maior.

-Entendo, então pelo acidente ser recente não vamos conseguir contado com nossa artista tão amado por todo o Brasil?!

-Exatamente, deve levar algum tempo até o espírito dela recobrar a consciência.

-Mas sr. médium e se a gente tentasse contato com alguém que morreu há um pouco mais de tempo? Pra ver se alguém avista ela no mundo espiritual. Tem aquele artista que gravou uma participação no disco dela, que morreu tem uns três anos, de repente ele pode nos informar se avistou ela depois do acidente...

@oantonioguadalupe