ELES, OS BÁRBAROS PELOTENSES!
Sempre fui um pelotense muito orgulhoso da história cultural de Pelotas, do tipo que repetia a explicação que ouvi numa palestra do professor Mario Osório sobre o motivo das companhias de teatro se apresentarem duas vezes na cidade e apenas uma na capital.
Tinha decorado o discurso de que devido à prosperidade socioeconômica dos tempos das charqueadas, a cidade passou a se tornar polo cultural da arte e da erudição, através da criação de sociedades literárias, companhias dramáticas e saraus, o que a levou a ser reconhecida como “Atenas do Sul”.
Falava sempre com muito entusiasmo dos expoentes da cultura pelotense, como Lobo da Costa, João Simões Lopes Neto e Yolanda Pereira, a primeira brasileira a conquistar o título de Miss Universo em 1930.
Mas confesso que eu só era entusiasta desse discurso fora de Pelotas. Sempre que estava em viagem noutra cidade e perguntavam de onde eu era respondia tudo isso orgulhoso.
Porém, quando por algum motivo alguém vinha visitar a cidade, nunca me senti à vontade de repetir toda história de opulência cultural da Atenas do Sul, visto que as pessoas que ouviam essa história poderiam testemunhar em qualquer esquina uma camionete depositar um saco de lixo na calçada e um carro de luxo passar sem parar para os pedestres na faixa de segurança.
Receoso das perguntas que poderiam advir desta incongruência visível a olho nu, com o tempo fui bolando o meu próprio revisionismo histórico que explicasse a queda nos costumes da elite pelotense.
Foi assim que comecei a explicar, antes mesmo de qualquer pergunta, que no final do século XIX, Pelotas sofreu com diversas invasões bárbaras, sendo que a cidade foi tomada por vikings que a invadiram através do porto de Rio Grande.
Finalizo sempre dizendo que esta é uma parte da história pouco comentada, o povo pelotense tem vergonha de admitir que foi invadido por Rio Grande...
@oantonioguadalupe