FAMÍLIA

A uma certa altura da juventude, é saudável romper algumas amarras familiares para alçar vôos próprios. É no trilhar das estradas a desbravar que descobrimos nossa identidade e o tamanho do mundo a que estamos realmente habilitados a ocupar. É um tempo variável, difícil de mensurar. Nesse andar, formamos eventualmente ninho próprio, com novos vínculos e afetos. Também é família. Mas o berço – com suas palhas, galhos e folhas – jamais perde o sentido do aconchego, das memórias vívidas e das muitas relações que perduram, independentemente de tempo e espaço. As origens são as origens, com sua força telúrica e emocional. Família é o “ferrolho”, a segurança, o apoio. Inclusive os que já partiram, estão de algum modo presentes, já que são peças irremovíveis do nosso universo interior e suas memórias circulam em nosso entorno. Os novos tempos ameaçam bastante o congraçamento, sem falar nos conflitos internos, infelizmente não raros. A pandemia ainda em curso tem restringido enormemente as oportunidades de convívio mais amplo e ameno. Os cuidados pessoais complicam os gestos de atenção para com pessoas caras que os mereceriam. Tudo tem sido limitado, até o beijo e o abraço. Mas esta responsabilidade social não tem o condão de afetar sentimentos legítimos e os indispensáveis encontros de fraternidade, inclusive com amigos. Pela crise econômica e pandêmica, posso adiar viagens ambicionadas rumo ao exterior, mas não posso deixar passar a menor oportunidade de convivência saudável com os meus, também com os amigos próximos. Me convidem, sou preguiçoso, mas a gente encontra sempre um meio de conservar as raízes e os contatos. Especialmente em família. Eu, sempre que possível, convido. Esta é uma ideia que deve nortear a vida.