ALMOÇANDO COM A MÃE

Durante vários anos, saia do trabalho no Banrisul e ia direto ao Edifício Jaguaribe, 135, na Avenida Salgado Filho, 23º andar, almoçar com a mãe e Ana Maria. Creio que, então, a Mirtes comandava a cozinha. É claro que Ana já havia almoçado às 10 horas da manhã e ficava só circulando. Nesse tempo, mãe teria um pouco mais de oitenta anos. Tomava sua boa taça de vinho português PERIQUITA e comia lentamente, sem grande apetite, como sempre. Mas a lembrança mais vívida era das conversações. Maria do Carmo, rádio ligado nas entrevistas e noticiários políticos, gostava de opinar. Algumas vezes comentava algum artigo que eu escrevera em jornal ou notícia decorrente do trabalho de meu filho Tiago, Promotor de Justiça. Tinha opinião certeira e não foram raras as vezes em que lhe submeti temas para artigos jornalísticos. Conversávamos sobre família, negócios e questões regionais ou nacionais. Uma boa taça de vinho tinto deixava a “velha” animada. Momentos inesquecíveis. Depois, Mirtes dava uma arrumadinha na minha antiga cama de solteiro e eu fazia uma sesta de vinte minutos, antes de regressar ao trabalho. Eventualmente, o filho também vinha almoçar e a confraternização era ainda maior. Ana ficava animada, jamais ao ponto de perder o repeteco vespertino de suas novelas com o insuperável Fofão (Tony Ramos). Antes e acima de qualquer coisa, a gente tinha de tranqüilizar Ana Maria, com sua indefectível preocupação: “Estão roubando?” A vontade era de dizer que sim, roubando muito, mas a pergunta dela tinha por escopo saber se ocorria alguma interferência indevida para prejudicar Tony Ramos e seu par em que ela se projetava. Restava dizer que não, que tudo corria bem. E a mãe deitava na cama para assistir a seus programas favoritos de televisão: debates, notícias, novelas ou o que quer que fosse. Após, muita leitura, até bem mais tarde. Saudade.