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(Imagem do Google)

Salvador
 
Após um ano e seis meses de confinamento, devido à pandemia, fui acolhida por Salvador, no sentido mais belo e poético desse vocábulo. Já do alto, fecharam-se meus olhos e meus pensamentos foram banhados pelas águas de Iemanjá. De  alma leve,  fui conduzida afetuosamente a Itapuã, regada a muito dendê e a  uma paisagem linda de se ver. 

A mim não me  importa se a Cidade é Alta ou Baixa, o encantamento aninhou-se em meus olhos, que ora sorriam de emoção, ora de gratidão, visto que Salvador é um céu aberto de arte,  cultura, alicerçado pelo  nosso berço,  pela nossa história, que guardo respeitosamente em minha memória! O verdadeiro aconhego está no cuscuz e beiju de tapioca, feitos com muito esmero, a batata doce no café da manhã, que não é de nosso costume aqui em Minas, um aprendizado e tanto! O saborosíssimo acarajé do Sílvio, no Bairro do Comércio com seus centenários casarões,  o pastel nordestino recheado de carne de sol, aipim e queijo, alimentou-me tal qual o sorriso de um menino! O sorvete de puro coco, na Sorveteria da Ribeira, adoçando a vida dos soteropolitanos e  turistas desde 1930.  A deliciosa pititinga no Bar de Mariinha, lá no Garcia, tem cheiro e gosto de poesia!  Observo cuidadosamente  o orgulho que o nativo tem em  nos apresentar os costumes de   sua terra. Em tempos atuais, essa naturalidade faz um bem enorme para a nossa essência  enquanto pessoas  que buscam serenidade e dias mais amenos! 

Contemplar o Morro da Pedra da Sereia, com suas casinhas coloridas, abraçadas pelo mar e imaginar esse cenário nos anos de 1970, aos olhos de Raimundo Sodré e Dorival Caymmi , é a vida amar, amar e (a)mar...
"Eu fui ao Tororó
Beber água não achei
Encontrei linda morena 
Que no Tororó deixei..."
 Peço perdão aos historiadores e prefiro acreditar nas lendas de minha infância, dizendo-me   que essa  saudosa cantiga de  roda veio do Dique do Tororó soteropolitano, não me engano! Os orixás flutuando sobre os espelhos d'água , fazem-me acreditar no lúdico, na leveza , na sabedoria da criança, conforme disse tão bem Gonzaguinha.  Quem sou eu para duvidar?  O Mirante do Largo da Vitória é de tirar o fôlego , fez-me refletir quão pequenina sou  diante da imensidão daquele azul céu e mar...

A praça que é do povo, sob as asas do condor tem a graciosidade e grandiosidade de Castro Alves. A impressão que se tem é a  de que o poeta está ali, elegantemente ,  dando boas-vindas a todos que por ali passarem,   alertando-lhes também para as questões sociais que tanto assolam nosso país. Passar em frente ao "Lar, Doce Lar" de Jorge Amado e Zélia Gattai, ressuscitaram  em mim alguns personagens, companheiros meus em décadas passadas. Apesar de meu escasso conhecimento,  ficaria aqui, prazerosamente, horas a fio, reverenciando nossa história, todavia  despeço-me, narrando  mais   lembranças minhas e ainda sentindo  a brisa acariciando minha face, nas belezas da Praia de Villas do Atântico, em Lauro de Freitas. Num finalzinho de tarde, aconcheguei-me em seus belos coqueiros, numa despedida honrosa, saudosa... 



 
Rosa Alves
Enviado por Rosa Alves em 15/09/2021
Reeditado em 16/09/2021
Código do texto: T7342867
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