O QUE É SER SERTANEJO...

No meu labutar, sou O rei desse sertão, pois cada um tem sua importância no seu ofício escolhido.

Nos pés, apracatas de couro ou um roló com solado tão resistente que até espinho de mandacaru se tora no meio.

Um jaleco de couro de carneiro oh de bode que no bolso transporto um canivete de cabo de osso mais amolado que navalha de barbeiro.

Uma tora de fumo e uns papéis Colomy para pitar quando possível for e a vontade vier.

No rosto, os traços das queimanças de um sol caatingueiro que avermelha a pele que chega "ingiar" pela ardensa.

Na cabeça, uma coroa chamada BOSTA DE BOI, que cumpadi Zumiro me trouxe la de Serra Talhada.

No cabo do lôro, lavro toras de madeiras para fazer um bom mourão de cancela e utilizo a inchó e as vezes o formão.

Tirar meu facão Guarany dos quartos? Só no final da labuta quando em casa eu chego.

Já fiz passadiço, porteira de pau corredor, cerca de marmange e de macambira, e quando precisam de um cerqueiro, é a mim que muitos vem procurar.

Cavo buraco, e até as estacas de jurema ou sabiá, sabem que quando passo os 5 ou 6 fios de arame e aprego a os grampos, é serviço garantido e a cerca fica linheira sem desviar um centímetro se quer.

A nossa labuta é dura, mas só sabe o que quer dizer cada palavra aqui assentada, o cabra que sabe o que de fato é ser sertanejo.

Carlos Silva.