ANIVERSÁRIO DE SEPARAÇÃO

Foi correto e amigável: separei-me da minha ex-esposa há 33 anos; tinha, portanto, 41 anos de idade, 17 anos de um bom casamento e dois filhos, de 11 e 15 anos de idade. Nunca é fácil para o casal, notadamente em função dos filhos. Coisas da vida. No dia 30 de agosto de 1988, deixei o ninho de casa na Wenceslau Escobar, Vila Assunção e estabeleci-me no apartamento de solteiro da Rua Fernando Machado, Centro, onde residi por mais de 20 anos. Não foi muito fácil alojar-me, adquirir o mobiliário indispensável e recomeçar a vida. Lembro que eram dias muito frios e que, regressando do trabalho, ficava um tempinho em frente ao aquecedor elétrico portátil. Não tinha telefone, uma linha da CRT no centro era rara e caríssima. Falava com os filhos através de um orelhão na calçada fronteira, defronte ao bar e restaurante Farroupilha. No primeiro fim de semana de aclimatação aos novos tempos, eu, os filhos e o irmão Ricardo tiramos pilhas de fitas videocassetes para assistir e degustamos frituras feitas pelo irmão, mais as muitas guloseimas que adquiri no supermercado bem próximo. Foi bastante divertido. Pelo que lembro, fui o primeiro da família mais próxima a separar-me, fato consequentemente incomum, sem referencial. Aumentei gradualmente o campo de trabalho: Banco, Escritório Profissional e Magistério na Faculdade de Direito, manhã, tarde e noite, o que era ótimo e propiciava-me interessantes e novas interações. Orçamento apertado, mas um grande desafio de recomeço. Não posso deixar de fazer este flashback, que assinala uma etapa de história pessoal decisiva, numa idade ainda tão cheia de vitalidade e expectativas.