O COMPLEXO DE CUSCO
Algo que chama muito atenção nas redes sociais é que as pessoas se esforçam muito mais para falar mal daquilo que acham horrível do que pra promover aquilo que gostam.
É simplesmente bizarro a pessoa fazer questão de compartilhar na sua linha do tempo um negócio que acha ruim, acompanhado de um textão e ainda convidar os seus companheiros de redes sociais para apreciar o quanto aquilo é abominável.
As redes sociais dotaram as pessoas de uma síndrome de heroísmo, onde elas sentem que precisam salvar olhos e ouvidos alheios do que supõem ser de péssimo gosto artístico.
Mas no fim, as postagens não passam de uma mera fogueira da inquisição acesa com o fogo das vaidades dos que julgam que sua erudição pode definir o que é música, o que é arte e o que não é nada disso.
Ao me deparar com este tipo de postagem, onde o autor faz questão de mostrar o quanto aquilo é horrendo, costuma me ocorrer o mesmo pensamento: “Pois eu não conhecia até tu apresentar”.
É como a pessoa comprar um quadro do Romero Brito e colocar na sala de casa só pra mostrar às visitas o que quanto aquela obra de arte é cafona.
O irônico é que o trabalho considerado ruim ganha mais visualizações e engajamento, enquanto o trabalho de tantos colegas de arte não merece, aparentemente, nem um compartilhamento.
Notamos aí a síndrome do cusco que corre atrás dos automóveis. Não vai mudar o destino do carro, mas se sente feliz por poder mijar na roda.
@oantonioguadalupe