JÁ FUI ROTEIRISTA DO CHAPOLIN, SABIA?!
Já fui roteirista e ator de um remake do Chapolin, já contei pra vocês?!
Isso foi na oitava série no colégio Cecília Meireles, aula de português da professora Palmira. Acho que pra não ter que ver aquele monte de moleque da escola pública de novo no outro ano falando “pobrema” e tauba”, a professora pediu pra turma se dividir em grupos e ensaiarem uma peça para apresentar em aula.
Pois bem, grupos divididos, sobraram apenas eu e um amigo, que era também meu vizinho, e fazia uns três anos que caímos sempre na mesma turma no colégio, de forma que ficamos sem grupo, muito provavelmente, por causa dos nossos antecedentes na escola.
Porém, para a professora mais importante que a peça em si, era a mensagem que a peça deveria passar, então tinha grupo que ia falar de gravidez na adolescência; tinha outro grupo que abordava preconceito com relação a casais inter-raciais, com beijo técnico e tudo.
Como nenhum grupo se dispôs a nos aceitar nem como atores coadjuvantes e a gente precisava da nota pra terminar o primeiro grau (era assim que chamava na época), começamos a pensar que peça apresentar com apenas dois personagens. E naquele verdadeiro brainstorm chegamos a nossa referência de dramaturgia: o programa do Chaves e do Chapolin.
Lembramos de uma esquete protagonizada pelo Ramón Valvés (Seu Madruga) e Carlos Villagrán (Quico), onde Valdés interpreta um mendigo com uma placa escrito CEGO. Villagrán faz o papel do benfeitor que vai dar uma esmola.
Antes de dar o dinheiro, o personagem diz que vai dar um determinado valor, ao que o suposto cego reclama que a nota é de valor menor. O doador questiona “Você não é cego?”, ao que o mendigo vira a placa que do outro lado diz SURDO.
Indignado o benfeitor interpretado por Carlos Villagrán contesta “Como surdo se está conversando comigo?”. Então o mendigo, interpretado por Ramón Valvés, responde “Surdo é o rapaz que fez o cartaz, eu sou analfabeto, não sei o que está escrito”.
Então o suposto mendigo, que era na verdade um verdadeiro 171, começa a contar um maço de notas antes de sair de cena e o doador então tenta se passar por mendigo. Enfim, esse é o resumo da esquete.
Os outros grupos já estavam ensaiando há algumas semanas, enquanto a gente teve a ideia na véspera do dia da apresentação. Então eu assumi o papel de roteirista e fui de tarde depois da aula pro escritório do meu pai pra usar o computador pra escrever os diálogos da peça.
Fiz também um cartaz com as palavras CEGO/SURDO, uma em cada lado, plastifiquei com durex e usai uma cordinha de óculo para segurar no pescoço. Não precisei me vestir de mendigo porque na oitava série naturalmente a gente já se veste que nem um desabrigado.
No outro dia ensaiamos algumas vezes os diálogos e a cena em si, como ninguém tinha coragem de começar, nos oferecemos para sermos os primeiros a se apresentar. A professora ficou entusiasmada, achou que a gente estivesse interessado, mas a gente só queria se livrar daquilo.
Eu fiz o papel do mendigo e terminava a minha participação na peça saindo pela porta e ficava o meu amigo fazendo o final da cena. Dou um tempo, quando eu volto a professora tá perguntando pro meu colega qual era a mensagem da nossa apresentação, sem titubear ele responde “Não dê dinheiro a mendigos, eles são muito mentirosos”
E foi assim que a peça, protagonizada pelos dois primeiros nomes que a diretora sempre falava quando ia na nossa sala de aula, foi a única nota dez.
@oantonioguadalupe