EU NÃO SOU DISSO
Duas mulheres conversavam na rua de um bairro afastado em Rio das Sombras. Enquanto varriam a calçada pararam para praticar o esporte preferido do pessoal daquele bairro: "falar dos acontecimentos".
-Você viu Maria, a hora que a dondoca aí do lado chegou em casa?
-Margarida de Deus, como é que pode?Já era dia claro e veio com um roupa toda transparente. Coitada da Teresa a filha dela tá perdida.
-Pois é, o filho dizem que mexe com droga. O Beto. Ta traficando e distribuindo na rua. Os rapazim tá tudo mexendo com esses trem ali na esquina. Ele que passa pra todo mundo por aí. Agora a filha nessa vida. Gente o mundo tá perdido! Margarida nós tá é no fim do mundo.
- E o Tonho que diz que tá traindo a Júlia, você ouviu falar? Ontem tiveram uma briga diz que ele bateu nela que até chamaram a polícia. Agora eu não sei se é verdade Maria, porque eu não gosto de fofoca.
-Eu também não, Deus me livre não sou disso, mas é verdade todo mundo já sabe. E tá confirmado também que o filho da Neuza é viado mesmo. Ele assumiu. Foi um desgosto pra ela coitada. Ter um fio desse tipo. Diz que tá até vestindo roupa de muié.
- Nossa. como é que pode Maria? Capaz até do pai dele expulsar ele de casa.
-O Zezinho teve uma briga feia com o cleber também. Mas eu falei isso Margarida, nao soube educar o menino. Ontem foi buscar la na delegacia. Diz que roubou numa loja la no centro. Mas a gente não sabe se é verdade porque o povo fala muito. Eu tô vendendo pelo preço que eu comprei.
- Margaria essa rua tem de tudo. Assaltante, traficante, viado, sapatão. É, a Carla fia do juca é sapatão e tem até uma namorada.
-Muié namorando muié? Tudo perdido mesmo!
-Ontem a Maria José me chamou la na casa dela que ela não tava passando muito bem eu fui la fazer um chá para ela. Margarida de Deus, que sujeira da casa, que muié porca! E eu acho que lá é tudo porco. Ela, o marido os fio.
-Ah eu sei como é que é. E aquele povo deve Deus e todo mundo. Sem querer falar mal, mas ali ninguem presta.
-Aham. Pois sím. E aquela mulher é perigosa Maria. Além de trair o marido também é fofoqueira como ela só. Deus me livre de gente assim.
-Fofoqueira e macumbeira Maria. Ela faz feitiço la na encruzilhada em frente ao cemitério toda sexta feira. Eu morro de medo dela.
-A carminha da rua de cima diz que agora virou crente. Santinha do pau oco. Não me engana não. eu sei de muita coisa dela. Oh, mas eu fico de boca fechada não conto nada. Para que difamar os outros?
-Ela devia de orar pros fio dela. Pra ver se eles cria juizo.O Roberto já tem vinte e cinco anos e não quer saber de trabalhar. Auilo é malandro até não ter mais jeito. Da golpe em todo mundo da rua. mentiroso e caloteiro. A Dayane tomou bomba de novo na escola. A Outra que eu esqueci o nome é mãe sorteira.
-Esse povo crente nenhum presta, é tudo enganação. Fica orando e depois aprontando as coisas
-Maria e por falar em religião oce foi na missa ontem, na purcição?
-Fui.
-Quem celebrou?
-O padre José.
-Ah eu vi falar que ele tava com rolo com aTânia que trabalha na casa paroquial. Ela ta gravida e estão dizendo que o filho é dele.
-Uai, mas diz que ele é viado . E que tem caso com o outro padre, o Alberto
-Vai ver que é tudo bagunçado la naquela casa paroquial.
-Esse mundo tá todo perdido. Ontem, escuta Maria, passou por mim uma rameira la na tal casa da luz verde. Lá na rua de cima. Aquele lugar da perdição. Ocê acredita que ela teve o displante de me cumprimentar.
-É assim mesmo tem gente que não sabe o seu lugar. É igual aquele povo esquisito do bairro Santa Clara.
-Nossa lá é tudo bandido margaria, tudo ladrão e traficante e muié a toa . Eu não passo nem perto.
-Gente de bem igual eu e ocê Maria, não pode se misturar com esse povo não.
-E as coisa esquisita que acontece na cidade heim Maria!
-Essa cidade é amardiçoada. Eu já vi coisa na rua que até me arrepio de lembrar. Principalmente lá perto do rio. Aquele rio é cheio de mistério.
-A muié de tres metros apareceu de novo. A tal muié esticada, diz que é alma que fica penando por aí buscando a salvação. Já foi vista perto da ponte, na praça e na beira do rio.
-Vai ver que alguma que fez muita fofoca na vida. Porque isso é pecado ocê sabia Margarida?
-Sei, eu sei que é, mas o povo não segue Deus, não segue a religião aí dá no que dá.
-Deus que proteje nós Maria porque nos somos gente de bem.
-Margarida agora ocê falou uma coisa certa.
-Nossa, e essa rua tá tão bagunçada. Olha so aquele buraco lá na esquina. Ontem eu quase cai la.
-Maria. o prefeito não presta, os vereador também não. Nada dá certo nessa cidade. ocê vai no posto de saude, aquelas vacas que trabaia lá te trata mal. O medico não entende nada de nada . Tudo é complicado. Na prefeitura o povo não resolve nada que a gente precisa . No hospital as mula daquelas enfermeiras não sabe nem aplicar uma injeção. O povo não quer trabaiá só quer saber de dinheiro e vida boa.
-Uai Margarida ocê tirou as palavra da minha boca. É tudo ruim, presidente da republica, deputado, os politico tudo. Tudo umas porcaria.
-Essa rua tá complicado de morar nela.
-E um povo fofoqueiro Maria. Falam da vida de todo mundo. Eu não gosto de fofoca, eu não sou disso.
Enquanto as mulheres falavam alguém as observava e sorria escondido num beco. Dois olhos as espreitavam muito satisfeitos com aquele papo. Era assim mesmo que ele queria. Aquela conversa ardia, crepitava, soltava chamas, exatamente igual ao lugar de onde ele vinha.