REFLEXÕES SOBRE A IDADE

Se você tiver menos de sessenta anos, provavelmente esta abordagem não lhe interessará, salvo no distante plano filosófico. Explico. Quando tinha 50 anos, uma pessoa de 80 era basicamente um velho, numa realidade longínqua e pouco desejável. Pensava-se apenas que era penosa a carga da idade. Aos sessenta, lentamente no início, depois aos setenta, outras ideias começaram a aflorar. Naturalmente que uma pessoa, a partir dos oitenta anos, por mais saudável que seja, não terá a vitalidade de um jovem de 30 ou 40 anos. É óbvio. Mas, no caminho dos meus 75 anos, fico seguidamente tomado pela ideia de que um homem sadio de mais de 80 anos, 90, conseguiu muito mais do que eu ou do que os mais novos que levam distraidamente a vida. Primeiro, eles viveram bastante, atingiram um limite que nenhum de nós sabe se também conseguirá alcançar. Segundo, em tempos diferentes daqueles que atravessamos, curtiram a vida, cumpriram a tabela, fizeram história. E prosseguem na jornada. Nós, por outro lado, ainda estamos em débito de feitos e conquistas, com chão pela frente, tendo muita sorte. Portanto, a perspectiva se altera e a vontade que se tem é de envelhecer com qualidade, a exemplo de tantos veteranos que vivem muito bem, alguns até com cem anos de idade. Não que eu tenha qualquer plano pessoal de lá chegar – e nem faria jus -, mas por conseguir desfrutar a plenitude da vida, dentro de minha predestinação genética e circunstâncias. Quando se diz que alguém de noventa anos é muito velho, é preciso que se pergunte ao de sessenta ou setenta, se ele tem mesmo farinha no saco para chegar lá. Ou sorte. Então, acredito que a velhice é uma grande conquista, uma bênção, uma subida ao pódio, mas, ressalvo: só com saúde, autonomia e disposição.