Novela Sinhá Moça - atriz Débora Falabella
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** PRIVILEGIADA
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Quem sabe um dia isso irá acabar. Não creio que estarei viva para ver isso. Infelizmente.
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** PRIVILEGIADA
Em um país cheio de preconceitos, sou privilegiada. Sou descendente de portugueses, tanto pelo lado de minha mãe - Braga - quanto pelo lado do meu pai - Guimarães Rocha - sou branca, não passei por muitas dificuldades na vida e nunca sofri nenhum tipo de preconceito. Meu marido me chama de "Sinhazinha", se fosse em outros tempos, neta de fazendeiros, poderia ser igual a da novela certamente.
Meu marido, ao contrário de mim, descendente de negros, mestiço, já sofreu e passou por muitos preconceitos na vida. Desde cedo, quando ia trabalhar, já com quatorze anos, época da ditadura, sempre era parado pelos policiais e tinha que apresentar carteira de identidade e carteira de trabalho. Quase todos os dias era a mesma coisa. Estudava e trabalhava desde cedo. Metalúrgico desde os quatroze anos, depois de fazer um curso no SENAI, naquela época esses cursos eram gratuitos, porém muito disputados e havia teste de seleção, não podia ter tatuagens e muito menos cabelo pintado.
Como as coisas mudaram.... Mas o preconceito não mudou, só piorou. Meu marido sempre foi um ótimo profissional em sua área de atuação e estava sempre atualizado no mercado. Fez duas faculdades. Nunca conseguiu chegar onde queria, pois, sempre um branco estava à sua frente na ascensão aos quadros da empresa. Muito qualificado, sempre se sentiu injustiçado. O preconceito sempre foi o verdadeiro motivo.
O preconceito no nosso país é velado. Morrem muito mais negros do que brancos, em qualquer situação. Jovens principalmente. Empregos então, geralmente estão na cadeia mais baixa do mercado de trabalho. Há de se lutar muito para conseguir alguma ascensão profissional por aqui.
Não temos e nunca tivemos igualdade de direitos em nosso país. Eu, nunca tive dificuldade em arrumar emprego, como secretária sempre fui escolhida, qualificada sim, mas e principalmente por ser branca, bonita, de olhos azuis. Sempre disputava as vagas com umas vinte pessoas, talvez tão qualificadas quanto, mas eu chegava na frente. Tinha formação, fiz curso no Senac para secretária, na época tinha 18 anos de idade. Mesmo sem experiência, meu primeiro emprego foi fácil, em uma construtora no centro da cidade de Belo Horizonte. Salário bom, ótimo ambiente de trabalho. Secretária de diretoria. Trabalhei por quatro anos, até a empresa falir por conta das obras do governo que nunca pagava pelas obras, sempre com pagamentos atrasados. Não tem empresa que aguente.
Como sou uma pessoa privilegiada, fico triste de ver quanta injustiça há em nosso país. Seja para ter acesso aos estudos até se formar. Seja no mercado de trabalho. Seja para abandonar o estudo para trabalhar e colocar comida na mesa. Tudo é bem mais difícil para quem não é branco no Brasil. Poucos chegam lá.
Eu tiro o meu chapéu para todos eles que lutam e muito, para ter um lugar nesse mundo.
Meu marido, ao contrário de mim, descendente de negros, mestiço, já sofreu e passou por muitos preconceitos na vida. Desde cedo, quando ia trabalhar, já com quatorze anos, época da ditadura, sempre era parado pelos policiais e tinha que apresentar carteira de identidade e carteira de trabalho. Quase todos os dias era a mesma coisa. Estudava e trabalhava desde cedo. Metalúrgico desde os quatroze anos, depois de fazer um curso no SENAI, naquela época esses cursos eram gratuitos, porém muito disputados e havia teste de seleção, não podia ter tatuagens e muito menos cabelo pintado.
Como as coisas mudaram.... Mas o preconceito não mudou, só piorou. Meu marido sempre foi um ótimo profissional em sua área de atuação e estava sempre atualizado no mercado. Fez duas faculdades. Nunca conseguiu chegar onde queria, pois, sempre um branco estava à sua frente na ascensão aos quadros da empresa. Muito qualificado, sempre se sentiu injustiçado. O preconceito sempre foi o verdadeiro motivo.
O preconceito no nosso país é velado. Morrem muito mais negros do que brancos, em qualquer situação. Jovens principalmente. Empregos então, geralmente estão na cadeia mais baixa do mercado de trabalho. Há de se lutar muito para conseguir alguma ascensão profissional por aqui.
Não temos e nunca tivemos igualdade de direitos em nosso país. Eu, nunca tive dificuldade em arrumar emprego, como secretária sempre fui escolhida, qualificada sim, mas e principalmente por ser branca, bonita, de olhos azuis. Sempre disputava as vagas com umas vinte pessoas, talvez tão qualificadas quanto, mas eu chegava na frente. Tinha formação, fiz curso no Senac para secretária, na época tinha 18 anos de idade. Mesmo sem experiência, meu primeiro emprego foi fácil, em uma construtora no centro da cidade de Belo Horizonte. Salário bom, ótimo ambiente de trabalho. Secretária de diretoria. Trabalhei por quatro anos, até a empresa falir por conta das obras do governo que nunca pagava pelas obras, sempre com pagamentos atrasados. Não tem empresa que aguente.
Como sou uma pessoa privilegiada, fico triste de ver quanta injustiça há em nosso país. Seja para ter acesso aos estudos até se formar. Seja no mercado de trabalho. Seja para abandonar o estudo para trabalhar e colocar comida na mesa. Tudo é bem mais difícil para quem não é branco no Brasil. Poucos chegam lá.
Eu tiro o meu chapéu para todos eles que lutam e muito, para ter um lugar nesse mundo.
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Quem sabe um dia isso irá acabar. Não creio que estarei viva para ver isso. Infelizmente.