MEU VELHO PAI

Politicamente falando, a esquerda cairia de pau e a direita vibraria com as ideias e a postura do meu velho e falecido pai, Darcy Silva Conceição. O pai acreditava piamente em “Deus, Pátria e Família”, portanto, combatia aberta e ferozmente tudo que atentasse contra a moral e os bons costumes, era um anticomunista de carteirinha, aliás, o primeiro Deputado Estadual aqui no Estado a apoiar veementemente os militares em 1964 - desde a primeira hora, portanto. Severo com os filhos, defendia a disciplina rígida nas escolas e nos lares, praticamente não bebia e não jogava, exceto xadrez e considerava a honestidade um requisito mínimo para o exercício de qualquer atividade, notadamente pública. Católico, de hábitos singelos, exaltava não só os valores patrióticos, mas as nossas tradições farroupilhas. Temperamento forte, orgulhoso e de coragem, não era homem fácil de lidar, mas sempre profundamente afeiçoado à família, que colocava acima de tudo. Em primeiro lugar, minha mãe, Maria. Por outro lado, como médico profundamente humanitário, atendia todo mundo, pagassem ou não e a qualquer hora. Sempre trabalhou muito. Mesmo na posição política que então ocupava, sensibilizava-se com pedidos de familiares de presos ou sob ameaça de sê-lo e procurava interferir de algum modo para ajudar. Era bastante solidário e gostava de trocar ideias (mas não abria mão das suas). Sempre custeou suas campanhas políticas, desfazendo-se de bens que acumulou na profissão. Detestava abusos de grandes grupos econômicos e compadecia-se de gente humilde e necessitada. Tivemos muitas desavenças - choque de gerações - mas sempre apostou em mim e me apoiou com firmeza nos momentos necessários. Sou gratíssimo. Quando tinha 18/19 anos, se pedisse dinheiro a ele para um jantar com uma namorada, costumava ignorar. Mas, se dissesse que estava necessitado de sexo e precisava dar uma volta na “zona”, não tinha erro: mundos diferentes. As tratativas nessa área corriam em sigilo. Minha irmã, por outro lado, teve patrulhamento severo e o velho também me incumbia de ficar sempre vigilante. No episódio da entrevista à TV COM que mandei editar, já por certos detalhes pode-se começar a entendê-lo: “leva - tudo” ou “capanga” na mão e seu indefectível pala franjado. Só faltou o 38 na cintura, que costumava portar nas viagens de carro.