LEMBRANÇAS DA MINHA ESCOLA

Segundo o escritor Márcio Ferrari, “Na história das ideias, o Grego Platão (427-347 a.C.) foi o primeiro pedagogo, não só por ter concebido um sistema educacional para o seu tempo, mas principalmente, por tê-lo integrado a uma dimensão ética e política. O objetivo final da educação, para o filósofo, era a formação do homem moral, vivendo em um Estado justo. Para Platão, "toda virtude é conhecimento". Ao homem virtuoso, segundo ele, é dado conhecer o bem e o belo. A busca da virtude deve prosseguir pela vida inteira - portanto, a educação não pode se restringir aos anos de juventude. Educar é tão importante para uma ordem política baseada na justiça - como Platão preconizava - que deveria ser tarefa de toda a sociedade”.

O Ensino Fundamental da 4ª à 8ª série, eu fiz na década de 1970, no Colégio Nossa Senhora da Conceição, situado na minha cidade natal Itabaiana na Paraíba. Era uma escola de cunho religioso, regida por uma irmandade de freiras da Ordem de Santa Catarina de Sena da Itália. Onde vivenciei muitas emoções da bela infância. Nessa época, cantávamos o Hino Nacional em perfeito perfilamento e todos com a mão direita no peito. Éramos obrigados a cantar corretamente as letras dos hinos cívicos. E assim fazíamos por amor à Pátria como ela merece.

A pessoa do “Professor”, tinha o seu devido respeito. Este ao entrar na sala, todos ficavam de pé, até que ele mandasse se assentar. Foram momentos maravilhosos da minha vida. Sinto bastante saudade dos meus professores, pelos quais eu tinha um imenso carinho. Minha professora da 4ª série, foi Tia Cecinha. Pessoa de sorriso largo, mas de um pulso firme com a turma e assim ela demonstrava um controle total sobre os seus alunos.

Na minha adolescência, tive professores marcantes, que até hoje carrego os seus ensinamentos. Ir. Delzuita Gomes da Costa de saudosa memória, foi a Professora de Língua Portuguesa. Toda a minha base em português, aprendi com aquela grande Mestra, de linha dura e com um domínio de conteúdo incomparável. Quem foi seu aluno, lhe elogia sempre. Em Matemática, tive três professores: na 5ª série Ir. Mônica, na 6ª e na 7ª série.

Prof. Luiz Gonzaga e na 8ª série, Prof. Antonio Cruz. Este na época, era para nós um fenômeno da Matemática e inspirava um imenso respeito. Ao entrar na sala, os alunos por tamanha atenção, mal respirava. Era uma imponente figura, com uma grande barba e muita seriedade. Nunca o vi levantar seu tom de voz com a turma e poucas vezes o vi esboçar um sorriso. Costumava andar de bicicleta e carregava sempre consigo uma pasta e um guarda-chuva preto. Ele tinha também outra atividade fora da escola, era ferroviário (Agente de Estação da Rede Ferroviária Federal RFFSA, na época dessa empresa, havia um grande complexo ferroviário de Triângulo em Itabaiana, PB).

Na disciplina de História, da 5ª a 7ª série, a referência, foi Ir. Tereza Porto. Pessoa de aspecto feliz que tenho como referência na minha vida. Seus ensinamentos carrego comigo até hoje. Dominava de conteúdo pedagógico e era uma exímia contadora de história. Guardo na memória seus impressionantes contos relatados com detalhes, separando com muita propriedade fato e ficção. Fazia de cada aula sua, um verdadeiro ensinamento para a vida. Ela era na época, a Diretora Pedagógica da escola. Na 8ª série, que lecionou História, foi o Prof. Luizito. Não era tão rígido, meio rizão e gostava de falar brincadeiras contando as experiências de sua vida.

Em Geografia, da 5ª a 8ª série, a professora foi Ednalda Dias de Oliveira (Naná). Passei a gostar de Geografia por causa dela. Seu largo sorriso e seu fantástico jeito carinhoso de tratar os alunos, fazia de suas aulas os momentos mais prazerosos da semana. Tirei várias notas dez em cartografia. Facilmente consegui decorar os nomes de todos os países do mundo e suas respectivas capitais e Cartografia era meu ponto forte.

Em Desenho Geométrico e de Educação Artística, foi a Professora Ir. Alzirinha. Seu doce de sorriso no rosto expressa um grande carisma naquilo que fazia. Tive dez na “Média Anual” na disciplina dela. Guardo até hoje o caderno de desenho com todos os seus vistos e notas. Havia na época na Matriz Curricular, uma disciplina intitulada “Educação Para o Lar” e a professora foi Ir. Zulmira. Sua postura de simplicidade e paciência, nos preparou para as diversas atividades da vida no lar.

Professor Luiz Gonzaga (Prof. Luizinho), foi nosso preparador em Educação Física. Esperávamos a semana inteira, que chegasse à sexta-feira, porque era o dia da melhor aula. Marcada por disputas, jogos e exercícios físicos, era a aula mais divertida de todas. Outras disciplinas também muito importante, não teve professores tão marcantes, como em OSPB (Hoje fora da Matriz Curricular das escolas) e Ciências.

Havia na época como ainda hoje há, os alunos mais audaciosos que se aventuram em determinadas situações, dos quais eu sempre fazia parte destes. Durante o intervalo das aulas, entravamos no grande quintal, atrás da Quadra de Esportes do Colégio, onde havia um pomar com grandes árvores frutíferas e um grande plantio de macaxeira, milho e feião. Era como se estivéssemos em busca de um grande e misterioso “tesouro escondido”, que nunca encontramos. Quantas carreiras nós levamos da Diretora Ir Tereza Porto. Quando percebíamos de longe, que ela vinha vestida naquele enorme hábito branco, roçando nos galhos das macaxeiras e correndo em nossa direção! Depressa, atravessávamos a cerca de arame farpado e voltávamos correndo para escola.

Muitas vezes eu e meus colegas de sala, desafiávamos uns aos outros, para ver quem conseguiria atravessar a grande galeria que passava por debaixo do Quadra de Esportes, que se estendia desde o fundo do quintal, até a rua de frente o Colégio. Era um verdadeiro desafio, onde ficávamos sujeito as mordidas dos diversos insetos e animais peçonhentos, desde enxames de maribondos, aranhas caranguejeiras, escorpiões e cobras. Muitas vezes fizemos estas aventuras e nos sentíamos como verdadeiros “Indianas Jones”.

Quando começava os ensaios da Banda Marcial para o desfile Cívico de Sete de Setembro, aquilo era para mim um momento de encanto. Em 1976 eu comecei a tocar na Banda Marcial do Colégio Nossa Senhora da Conceição. Nosso Regente era Prof. Vital Rodrigues de Melo. Lembro-me bem no dia do teste. Testei vários instrumentos para saber qual seria o que me adaptaria melhor, começando pela caixa de guerra, depois surdo, pratos e por fim a corneta. Me adaptei melhor com a última. Depois aprendi a tocar os demais instrumentos de Banda. Porém, me especializei no instrumento de sopro (corneta si bemol).

Minha mãe admirava bastante quem sabia tocar bem a corneta. Motivada pelo que via e ouvia do seu irmão Sebastião Mororó (Basto Mororó), que serviu ao Exército Brasileiro na guarnição do Tiro de Guerra local, onde depois, também serviu o meu irmão, o mais velho dos treze, o Antonio Mororó chamado (Tota). Ela ouvia as informações sobre as instruções do Batalhão e desfiles e acompanhava as manobras militares local da época. Ela ficava encantada com o toque da corneta. Eu entusiasmado com seus relatos, os cânticos dos hinos cívicos e contos sobre o assunto, resolvi tocar o instrumento corneta.

Dois anos depois me tornei o Regente da Banda Marcial do CNSC e a regi de 1978 a 1998. Foram vinte longos anos de instrução e aprendizado, sobre disciplina e ordem, no exercício do ensinamento a jovens que como eu, tinham uma paixão por tocar em Banda Marcial. Foram os anos áureos da cultura Cívica das bandas marciais no Brasil.

Da Quadra de Esportes do Colégio da Conceição se ouvia ao longe, os estrondos de outra banda ensaiando, a famosa “Banda do Estadual de Itabaiana” e eu sempre dizia:

- “Um dia eu irei tocar naquela banda”!

No período dos ensaios para a grande festa do “Desfile Cívico de Sete de Setembro”, eu fazia de tudo para ir olhar aquela banda tocando. E quando eu conseguia ir, logo que me aproximava, ficava arrepiado de tanta emoção. Naquele tempo, fazia-se uma seleção entre os candidatos para se tornar um componente daquela Banda. Entrar para aquelas fileiras era como ser aprovado num melhor concurso do mundo. Era a maior honra para os jovens da cidade, na época.

A Banda do Colégio Estadual de Itabaiana, PB, foi fundada em 1969 pelo Cabo Totô, influenciado pela sequência do Governo na época. Ele que também servia ao Tiro de Guerra, um destacamento militar local nessa época, o qual estava no período com bastante influência sobre regência de banda. Foi o Cabo Totô o grande instrutor das bandas da história de Itabaiana, PB e por de sua vida, foi um amante e influenciador dessa cultura.

No ano de 1979, comecei a estudar no Colégio Estadual Dr. Antonio Batista Santiago, o famoso Colégio Estadual de Itabaiana. Fazendo o 1º ano do Ensino Médio, na época “O Segundo Grau” e logo fui selecionado para tocar na Banda. E tendo sido aprovado, comecei a tocar como corneteiro de fileira. O instrutor na época era o grande professor José Marcolino, “O Mestre Marcolino”. Militar do Exército Brasileiro, que estava na ativa servindo no 14º Batalhão de Infantaria Motorizado, Recife, PE. Era o quartel do Exército mais rígido do Comando Leste. Com ele, aprendi os segredos sobre Bandas e Fanfarras e como lidar com cada situação desse público.

Eu procurava ser fiel em todos os ensinamentos do Prof. Marcolino. Era ele, um instrutor de linha dura e disciplina tradicional. Porém, eu nunca fui chamado atenção por ele por alguma falha minha.

Logo no ano seguinte ao que eu havia entrado para a Banda, houve seleção para Corneteiro Mor (Co Instrutor), e eu concorri com os dez melhores corneteiros de fileiras da época e na chamada “Prova de Fogo” eu fui o primeiro colocado. No ano de 1981 o professor Marcolino que servia no Recife, PÉ, o estado vizinho, não pode conduzir a nossa Banda, porque estava com sua agenda cheia. O então Diretor do Colégio Estadual, o Dr. Fernando Rodrigues de Melo, me convidou para ser o Regente Oficial da Banda do Colégio Estadual de Itabaiana. Aceitei como muito prazer e fui auxiliado pelo também Instrutor Aguinaldo Barbosa.

Fiquei também como Regente, da magnânima Banda do CEI (Colégio Estadual de Itabaiana), de 1979 a 1998, exatamente 19 anos. E nesse período tive a honra de participar e vencer inúmeros concursos de bandas, assim como participar de brilhantes apresentações cívicas em diversas cidades do Brasil, trazendo com muito orgulho inúmeros troféus para aquela escola, conquistados por um pelotão de brilhantes jovens, verdadeiros guerreiros que se empenavam em dar o melhor de si por amor a Pátria.

Durante esse período, houve momentos fabulosos, com casos encantadores vivenciados por cada um que teve o prazer participar da Banda de CEI nessa época. Naqueles anos várias mudanças aconteceram na estrutura da Banda. Alteramos a quantidade de fileiras de quatro para seis fileiras. Abrimos espaço para a participação feminina que antes era composta apenas por componentes masculinos. Registramos o nome oficial da Banda na Associação de Bandas e Fanfarras do Estado da Paraíba como Banda Marcial Águia Azul.

Nesse período escrevi letra e música do Hino Oficial da Banda, intitulado “O Canto da Águia Azul”. Escrevi textos, poemas e contos sobre essa lendária Banda do Colégio Estadual de Itabaiana. Me reporto à famosa Banda do CEI, com orgulho de ter participado daquela que foi como para muitos para muitos jovens daquela época, uma verdadeira “Escola de Civismo”.

Levo comigo a certeza de ter contribuído para a formação de uma geração forte e comprometida com a cultura do seu povo. Que certamente aprendeu a valorizar o dever cidadão e defender “Os Direitos Humanos”, para a obtenção de uma sociedade mais justa e solidária. Acredito ter escrito na história da minha terra, um brilhante capítulo na educação de um povo, onde centenas de jovens aprenderam as marcantes lições de garra, civismo, perseverança e amor, para desempenhar o seu papel da melhor forma em qualquer âmbito sociedade.

João Pessoa 20 de junho de 2021.

Dom Antonio Joaquim Alves (Thiago Alves)

Embaixador da Paz Mundial - Núcleo Paraíba, Brasil

World Parlament of Security and Peace WPO

A Arte de Thiago Alves
Enviado por A Arte de Thiago Alves em 03/07/2021
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