Einstein era Louco; e o Bolsonaro?
Poeminha do Louco
Vá por aí,
que Eu vou por aqui e quem se interessar,
vá por lá;
pois a mesmice é o atalho mais rápido,
a maneira menos difícil,
para chegar ao ponto de encontro,
nominado alienação.
Sou todo olhos e ouvidos para as coisas invisíveis para a maioria. Por isso, Eu acredito que os esquisitos e estranhos se encontram na mágica completude da perfeição. Logo, o que entendem como loucura, para mim não passa de uma maneira de ludibriar as deselengantes normalidades.
Por exemplo, que loucura houve, quando perguntado pelo repórter sobre qual era sua tendência política / partidária, motivando Einstein lançar a língua mal escovada para fora da boca. Ora, defendendo a tese sobre a Teoria da Relatividade, o físico acabara de ser laureado com o título de doutor em Física, daí nada melhor que aliviar-se da mixordia de fórmulas e considerações conceituais sobre o tema, fazendo uma linda careta. Aliás, fotografada pelos paparazzos, essa é a melhor e mais honesta recordação que se tem do famigerado gênio das exatas; que entre títulos e pedradas, levou o Prêmio Nobel de Ciência.
Eu sempre me dei super-bem com essas feras de raciocínio indomável; e limpando os chips eletrocutados da mente, encontrei um dos muitos doidões que Eu rolava um lero. Esse era um doidão orgânico, boa praça, sossegado, não bebia, fumava uma guimba de cigarro catada no chão. Estava sempre enrolando os cachos de cabelos ensebados e para lá de Marrakesh, encostado num poste de energia. Era me ver, a peça rara já preparava as palavras para o diálogo. Tinha as respostas na ponta da língua.
Ficávamos ali, entretidos entre perguntas e respostas; e se Ele nada perguntava, Eu nada respondia; e vice-versa. Seguíamos nesse ping-pong perfeito de ideias. Porém, se o silêncio fosse maior que a curiosidade, Ele girava a cabeça 360°, avistando a avenida enfestada de carros buzinando e transeuntes atabalhoados, feito formigas em véspera de chuva, bradava: "cadê todo mundo". Imediatamente, Eu dizia: "opa, estou aqui".
- ah, beleza! Vou ali e volto logo; espere aqui...- e fazia sinal de positivo com o polegar.
Em seguida, corria em direção ao primeiro poste de eletricidade, rodopiava 3 - 4 voltas ao redor dele, abraçava-o fortemente; ficando assim por um tempo e retornava para falar comigo. Ao aproximar, dizia: "desculpe-me, mas a falta de energia escurece até meus pensamentos; e fazendo esse ritual, subo no poste, entro nos fios, vou até a hidrelétrica e returbino a minha memória. Sinto-me renovado pela luz do conhecimento. Veja quantas Eu trouxe; pegue a sua. Voltemos: sobre o que estávamos falando, mesmo?"
E tudo recomeçava, logicamente, até o novo branco do silêncio; se é que silêncio tem cor. Notando que o doidão era perfeito em tudo, Eu perguntava: "qual a cor branca do silêncio. Ele pensava, pensava, cofia a cabeleira, pensava e dizia: "passo. Manda outra".
Essa era a única pergunta que Ele não conseguia responder. Para finalizar a sessão, íamos até a padaria mais próxima comer um pão seco, embebido em um cafezinho preto - mas só quando tinha dinheiro, o que era raro; pois embora não toque fogo no bolso quando tinha uns trocados, louco não precisa de dinheiro. Vida boa, vida bela.
Está tudo pronto, é só vir pegar...; exceto as mulheres, cuja a terminação do nome, seja Ela. Exemplificando, a cravo e canela, Gabriela!
Bem, pensando dessa maneira, certamente Eu, Einstein e o doidão somos todos loucos, menos de jogar pedras; porém de celular, gravatas, balas perdidas, de políticos genocidas e almas mais honestas do mundo, etc, etc.
Daqui a pouco Eu vou liderar o movimento e berrar para os sanos: "Oh meu povo, pare a passeata contra o Bolsonaro que Eu quero cometer suicídio!"
Será que terei chances de berrar pela segunda vez?! Embora Eu seja privilegiado - sou influente parente do Rei - por ter sido vacinado com múltiplas doses, melhor não desafiar os sanos, afinal, quem sabe amanhã engrossarei a lista, sendo mais um esquife de pernas espichadas, olhos cerrados e as mãos com os dedos entrelaçados no peito, vítima de Covid-19, esperando pela chegada de terra sobre o meu putrefado corpo.
Socialmente e ambientalmente, a loucura é tão desprezível, que se pudesse, a Natureza rejeitava-a; afinal, o chorume residual humano, suja, polui, contamina o solo e o lençol freático.