Os Inquilinos
Não sei na de vocês, mas por aqui nós temos os donos da rua, ou melhor dizendo, um dono da rua. Ele, o menino, diz dominar toda a Rua Antônio Carlos de Souza, do número 111, que é, aliás, onde o dito-cujo mora, ao número113, e acho também, não tenho certeza, que um pedacinho da Rua Adilson Charles Junior.
Tudo bem que a rua é um pouco mais estendida, bem mais cumprida, mas isso não importa, o importante – como o rapazinho mesmo costuma berrar aos quatro cantos – o importante é que quem manda aqui é ele. E olha (que ele não me ouça dizer isso), mas pra ser honesto a rua nem tem nada de especial, nem asfaltada ela é. Quando chove é um Deus nos acuda. Isso sem falar no buraco que tem logo ali na esquina, onde Vire e Mexe um carro fica entalado nele...
Com certeza não deve funcionar assim em lugares como o Rio de Janeiro, mas de fato esse nosso miliciano costuma dar nas vistas só lá pelas sextas-feiras em diante, que é quando ele cheira aquele famoso Pózinho Mágico e toma umas cangibrinas a mais. Mas também, pudera, coitado do menino, passa a semana toda sem ter o que fazer, entediado da vida, que é mais do que justo ir à forra, enfiar o pé na jaca de vez, afinal, todo mudo merece um pouco de lazer.
Sim, é nos finais de semana que ele realmente dá seu show, mostra ao mundo para o que veio. Arruma briga com um, arruma briga com outro, corre em casa e pega faca, xinga e ameaça quem quer que o enfrente, diz que vai botar ordem no pedaço e que quem quiser vir, que venha. Um espetáculo, só vendo. Isso quando não dar de espancar a própria mãe, coisa que os mais chegados dele, os amigões do peito, não veem problema algum, pois, quem é que nunca espancou a mãe uma única vez que seja na vida?
Puxou ao pai o menino. O pai batia na mãe quando ele era criança, e ele só faz é continuar a tradição familiar. Vá lá que de vez em quando a polícia abaixa, mas geralmente não acontece muita coisa, ele leva um ou outro esporro, mas quando vai ver, já está fazendo tudo de novo. A mãe, apesar dos pesares, sempre intercede, não deixa os Homem da Lei levar o seu menininho...
Está certo que a mãe não é nenhum exemplo de bom comportamento. Na verdade, ela é alcoólatra, não dessas de cair no meio-fio, mas de beber todo santo dia alguma coisinha ao chegar do trabalho, e nos finais de semana, assim como o filho, entornar de vez o caneco e fazer das suas. Digamos que os dois, mãe e filho, formam uma bela dupla no desfecho das semanas.
E o pior é que ele é magrinho, como dizem, não aguenta um peido. Mas sabe como é, ele não tem nada a perder.
Esta família é muito unida
E também muito ouriçada
Brigam por qualquer razão
Mas acabam pedindo perdão…