Palavra Solta - coração sertanejo
Palavra Solta - coração sertanejo
*Rangel Alves da Costa
Eu bem poderia ser um velho calendário numa parede de barro, uma fita desbotada do Juazeiro do Padim Ciço, um candeeiro enferrujado em cima da banquinha. Eu bem poderia ser um oratório de canto de quarto, um carcomido jarro de flores velhas de plástico, uma imagem santa desbotada pelo tempo. Eu bem poderia ser aquela plaquinha antiga e alquebrada dizendo que aqui mora uma família feliz, um tamborete de pé de porta ou uma trempe sem pote lá no fundo da cozinha. Eu poderia ser a moringa na janela, a panela de barro ou mesmo o velho carro-de-bois esquecido debaixo do umbuzeiro. Eu bem poderia ser tudo isso. E sou tudo isso. Sou o vaga-lume, sou o grilo, sou carcará-gavião. Sou a cruz da desvalia, sou o pedaço de pão. Sou o rosário de contas, sou o silêncio da oração. Sou Sertão.
Escritor
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