Palavra Solta - no banco da praça

Palavra Solta - no banco da praça

*Rangel Alves da Costa

Mesmo enevoado e triste, o entardecer na solidão do banco da praça é muito melhor. As folhas da amendoeira são balançadas pelo vento e se lançam em voo para repousar a meus pés. Os pombos já comeram seu grão e já retornaram às suas distâncias. As avoantes já cortaram os céus afogueados pelo lume do último sol, e por isso mesmo o meu olhar já não divisa a passarada do entardecer. Folhas mortas, folhas entristecidas, canteiros ao relento e desalento. E eu sozinho. O vento sopra, vem murmurando segredos, mas nem tenho o cuidado de ouvi-lo. Estou triste. Diviso uma pessoa do outro lado da praça e imagino que esteja com maior satisfação do que eu. Depois percebo que a moça se assentou num banco ao canto, rente à fonte luminosa que não acende mais. Ela permanece lá, sozinha, talvez esperando alguém ou deixando simplesmente o tempo passar. O tempo avança e não vai demorar em a boca da noite chegar. Continuo melancólico e triste, e certamente nada me fará diferente, ao menos por enquanto. E também certamente eu serei o único em tamanha tristeza na praça. Chega a hora de ir embora. Levando já pisando no tapete frio de folhas mortas e vou seguindo. Ao passar pela moça, então percebo o seu rosto encharcado de lágrimas. Não sofro sozinho. Talvez o mundo esteja sofrendo.

Escritor

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