FALAR DE UM APÊNDICE


FALAR DE UM APÊNDICE

Estávamos no ano de 1955, e nasciam ali dois gigantes da era contemporânea, que foram Steve Jobs e Bill Gates, responsáveis talvez pelo grande avanço da informática no mundo.

Também nasceram Alain Prost, Nicolas Sarkozy, Mia Couto e o nosso Edson Gomes. E muitos nasceram, como também morreram, pois não podemos esquecer o adeus a Albert Einstein, James Jean, Alberto Ascari e Carmen Miranda.

Naquele ano, tivemos o início da Guerra do Vietname, que pôs o mundo em polvorosa e impactou severamente a juventude norte americana

Mas, além desse caldeirão de ocorrências, nasceram pessoas comuns, boas ou nefastas. E lá, no interior do sudeste brasileiro, nasceu um apêndice do mal que viceja nos esgotos do mundo. Ali, nos idos de março, onde uma outra tragédia ceifou Gaius Julius Cæsar, nasceu outro Brutus, e o mundo se fez novamente de trevas.

Foi um bebê que viu Juscelino Kubitschek ser presidente e Jango ser deposto, colhendo as falácias de um regime militar que logo chegou. Cresceu vendo as fardas, e traiu o seu povo, entregando Lamarca, pois não enxergava os porquês.

E aquele garoto quis seguir uma herança sem glória, pois seu passado genético esteve com o "Duce" também. E assim ele foi, percorrendo os quartéis, buscar ter fortuna e poder.

Ele foi terrorista, mentiroso e engano, pois fez da farda uma alavanca para galgar o que queria. E entre idas e vindas, aposentou quando novo, se lançando no mangue que chafurda o poder.

Assim, o Brasil viu o reconstruir das casas grandes, das senzalas e cortes, e viu sangrar seus escravos. Foi juntando os pretos, índios e os ciganos, torturando as favelas, sujando oceano e praias, queimando as florestas, os museus e bibliotecas, pois brincar de bonecas, nem se pode mais. Censurando os jornais e calando os artistas, junta todos na pista, num atropelo coletivo e fatal.

E a síndrome de servidão continua o contágio, do povo simples e até mesmo do universitário, que não mais compreendem o que tanto estudaram, pois se voltam para o passado, em que o mundo findava onde a vista alcançava, e se achava possível ir aos confins da Terra, como se ela fosse plana.

Mas o planeta tem seus próprios planos, conectado ao Universo, e nos traz tragédias de onde nem podemos pensar. E além das desgraças que os políticos tramam, a natureza nos mostra o real poder, pois nas pragas, endemias, pandemias e cataclismas, não escolhe família, etnia ou o temor. Ceifa religioso, rico e estudado, sangra Rei e peão, sem ver cores de pele ou crenças, nos mostrando o tempo e a vontade do Cosmo.

E agora, sessenta e cinco anos depois, sem ter mais o que pensar sobre a vida, aquele garoto se engasga todos os dias ao falar ou mesmo vomitar, pois o tempo é mistério, é longo e curto, é sério e desdenha dos impérios, pois vão todos ruir.

O mundo nos mostra, na história geológica, que os enredos biológicos, só o Sol e o vento irão permitir, pois os frutos apodrecem, a madeira adormece, as dunas e rochas transparecem o que a poeira deixar, nos ecos dos desfiladeiros, onde as águas e os janeiros, escoarão até não ter mar, pois nada aqui é estático, e tudo vive ou morre, na alegria ou tristeza que vê as ondas bailarem, apegadas à força dos ventos, da Lua e do fermento, que o Sol nos dá.

Mas a pergunta, que não quer calar, é: até quando haverá criaturas querendo ser Deus, mandando os outros calarem e vomitando bravatas, mentindo à bessa, sendo bipolares ou cheias de transtornos, recalques e ciúmes? Até quando não perceberemos que nunca haverá um final ideal, se não podemos almejar sermos longevos como o abismo do vácuo celeste?

Mas nunca ouviremos as chamas da sarça ardente, se não aprimorarmos a nossa audição e todos os sentidos que realmente nos conectam a Deus, pois nunca será o fácil ou difícil que chega, mas o que vem da peleja das estrelas e fornalhas, que gestam a vida e os mundos afora, sem nos deixar conhecer além do que vemos, se nunca tiramos as traves dos olhos, das mentes, da inspiração e da revolução de nossos estigmas e ferrugens, que nos deixam aleijados e leprosos para sonharmos em sair das cavernas que nos aprisionam, desde antes de Platão.

Devemos refletir também sobre os pés e mãos dos primatas que buscaram ser eretos, não mais rastejando em molejos e sacolejos sobre os espinhos e cascalhos que agridem o nosso caminhar, para entender cada etapa dessa procura angustiante por algo que talvez nunca entenderemos, pois não haverá tempo útil para tal.

Como dizem, que após a procela sempre haverá um céu cheio de luz e estrelas para nos dar esperança, devemos nos preparar para os novos ventos que virão, com o pólen e as sementes que nos alimentarão, para deixarmos aqui uma história de louros, de propostas e consolo, pois o mundo dá voltas, sim! O mundo ainda gira, sim! A esperança ainda existe, sim!

Assim como o mal está dentro de nós, também ele está ao lado do bem, esperando nossos atos e propósitos, nossos sonhos e pesadelos, para tecer os novelos que nos guardarão dos invernos rigorosos e inclementes, ou até nas noites dos desertos, pois a natureza é germinante, tresloucada e inconstante, fazendo o mar virar sertão e o sertão virar um mar, sem dizer quando será, mas exigindo que estejamos prontos e resolvidos, para podermos desfrutar.