[Ciclos]

Ciclos não são exatos, tão pouco tem a precisão matemática que imaginamos. Não são alinhados com nossos planos, sonhos ou desejos... É apenas a vida, simples e muitas vezes rotineira acontecendo.

Passamos a vida com a ilusão de controle sobre o tempo, por pura e simplesmente marcar datas e olhar as horas, quando na verdade, o controle não passe de uma ilusão.

Sonhamos na infância, na adolescência e continuamos a sonhar na vida adulta. Fazemos planos, desenhamos objetivos, desejamos metas... E a vida, vem e nos mostra que tudo é rascunho, rabiscado e rasurado pelas mudanças, horas sutis e horas bruscas que nunca esperamos.

Há quem acorde caindo de um precipício e existem aqueles que nuca vão abrir os olhos, nunca vão perceber a beleza na sutileza das coisas.

Um martelo sempre causa mais impacto que uma folha caindo no outono e isso explica o porquê estamos à deriva em momentos que deveriam ser nossos, seja na alegria ou na dor.

Terceirizamos a culpa, esperamos que as boas notícias venham de manchetes de jornais, criamos teorias sobre as injustiças, porque aos olhares viciados em passado e futuro não conseguem compreender que o que nos cerca e nos resta é o momento do respiro.

Tudo fora disso foge das nossas mãos, e ficamos reféns de coisas que não temos como dominar. É uma luz em meio uma nevoa que nos cega temporariamente.

Os ciclos mais belos são aqueles que temos a oportunidade de vivenciar, experimentar, sentir e não por ironia da vida, os mais tristes também...

E o que resta dos dias e noites, verões e invernos, discussões, momentos de absoluto silêncio, prazer e pesar... É a lembrança que aos poucos corroída pelo tempo, enferrujada pela memória, vai-se lentamente dissipando no espaço deixado por mais um fim de ciclo.

É a vida gostando ou não, vivendo ou sobrevivendo, sentindo ou deixando de sentir. É disso, que tudo isso se trate e se resume, vida.