O CONFIDENTE - FINAL
(Para entender tem que ler que primeira parte)
Todos os dias, por volta das 5 da tarde, Eduardo dava uma pausa em seu serviço e ia tomar um cafezinho em uma cafetaria do shopping.
Esse ritual era seu momento de reflexão, reminiscências e planejamento. O expresso funcionava para ele como uma espécie de chá de ayahuasca.
Às vezes era bem rápido esse momento só seu, outras ficava horas e tomava vários expressos.
A cafetaria servia ainda como uma espécie de ponto de paquera, sempre cheia de mulheres casadas, mal-amadas, vingativas, secretárias neuróticas, solteironas carentes, moçoilas casadouras e toda uma gama de mulheres disponíveis, algumas até muito interessantes.
Eduardo, entretanto, nunca se envolveu seriamente com nenhuma delas; o máximo eram algumas horas no fim da tarde em um motel; nunca conseguiu superar o amor não correspondido da adolescência.
Ele ainda não havia digerido muito bem o encontro que teve uns quinze dias atrás com o casal dos agora ex-amigos e ex-confidentes, Cláudio e Fernanda. Ter sido chamado de canalha, cretino, filho disso e daquilo e até gay não o incomodava muito; essas pechas não o atingiam.
O que o deixava “encafifado” era lembrar que depois de todos insultos, quando o casal ia saindo, Fernanda se virou e ele pode ler nos seus lindos lábios ela dizendo “frouxo”.
Essa simples palavrinha tirou muitas noites de sono dele.
Quando ia entrando na cafetaria viu o casal sentado e tomando um café tranquilamente; aproximou-se e disse:
- Preciso falar com vocês.
- Ora... ora, há quanto tempo, sente-se vamos tomar um cafezinho...respondeu Cláudio.
Não precisa, vou ficar em pé mesmo – retrucou Eduardo
Cláudio se levantou com ar de deboche e Fernanda permaneceu sentada.
- Pode falar - disse Cláudio.
Eduardo fixou os olhos na Fernanda. Fazia calor e ela estava linda naquele vestidinho de alcinha todo florido, com aquele colo lisinho e monocromático, exatamente como ele a conhecia na juventude e pra finalizar aquele cabelo preso como rabo-de-cavalo conferia a ela um ar de adolescente.
A palavra “frouxo” continuava o tempo todo ecoando na sua cabeça.
Desembucha... cara! Não temos tempo a perder com você – disse Cláudio.
Eduardo aproximou-se de Cláudio, cerrou o punho da mão direita e desferiu-lhe um “uppercut” no queixo, digno do Anderson Silva da UFC e esse desabou feito o Edifício Palace 2.
Foi uma queda em câmara-lenta e ele ainda esbarrou na cadeira de Fernanda que se estatelou no chão.
Assustada, Fernanda estendeu a mão esperando que Eduardo a levantasse.
Supreendentemente, Eduardo se aproximou, agarrou firme no seu rabo-de-cavalo e saiu arrastando a garota pelo piso lisinho do shopping. Todos puderam notar um largo sorriso de nos lábios da Fernanda enquanto era arrastada.
De repente alguém na cafetaria começou a bater palmas e foi seguido por outro e mais outro até que todos batiam palmas e gritavam vendo o casal dobrar uma esquina do corredor.