O CONFIDENTE
Eduardo e Fernanda eram amigos desde o jardim de infância.
Adolescentes, Eduardo sentia uma grande paixão pela amiguinha mas evitava falar no assunto por timidez, medo de ser rejeitado e de perder a amizade.
Foi Eduardo que apresentou seu amigo Cláudio à amiga e foi aí que ele viu que tinha perdido sua chance.
Eduardo foi convidado para ser padrinho de casamento dos dois. Foi muito engraçado, pois ninguém havia visto antes um padrinho compartilhado ou como dizem os americanos, um ”shared best man”.
E assim Eduardo continuou a vida sendo confidente de ambos sem que um soubesse desse fato do outro.
De repente, o casal sumiu; não respondia as mensagens nem atendia as chamadas telefônicas. Eduardo achou que isso era uma coisa normal da vida.
Depois de mais de um ano sem contato, Eduardo estava se preparando para tomar um café expresso em uma cafetaria quando apareceu o casal.
- Precisamos falar com você - disse ela.
- Ora... ora, há quanto tempo, sentem-se vamos tomar um cafezinho...respondeu Eduardo.
E aí começou o triálogo (existe essa palavra?).
- Fernanda: não precisa, vamos conversar em pé mesmo.
Educadamente Eduardo se levantou.
- Cláudio: Pode contar, ela já sabe de tudo...
- Eduardo: Tudo o que?
- Cláudio: Da minha amante, a Rosa, aquela que te apresentei e que cheguei até a construir uma casa pra ela.
- Fernanda: Porque você nunca me disse nada? Belo amigo você não?
- Eduardo: Em briga de marido e mulher não se deve meter a colher... de pedreiro.
- Fernanda: E ainda fica zombando, seu descarado.
- Eduardo: Achei que ia ser engraçado... construção... meter a colher de pedreiro kkkkkkkkkk
- Cláudio: Não tem graça nenhuma.
- Fernanda: Agora conta o que você sabe a meu respeito, pode ficar tranquilo que ele já sabe de tudo... tudinho.
- Eduardo: Já que é assim, então tá; ela teve um caso com um colega de trabalho, pois estava com raiva de você.
- Cláudio: Eu sei; o Miguel, agora conta o mais importante, de você com ela.
- Eduardo: Parece que agora vocês estão felizes e reconciliados, que bom, e pra te tranquilizar, devo dizer que nunca tive nada com a Fernanda... juro!
- Cláudio: Eu sei disso, ela me contou que se “ofereceu” pra você e você recusou; por quê?
- Eduardo: bem eu...
- Fernanda: Você me acha feia?
- Eduardo: Sempre te achei lindíssima..
- Fernanda: Então me acha velha.
- Eduardo: Velha com trinta? “tás” brincando; você está no auge de sua beleza.
- Fernanda: Já sei... estou gorda, e você não gosta de mulher gorda, é isso...
- Eduardo: Me perdoa o abuso, Cláudio, mas a Fernanda tem o mesmo “corpitcho” delicioso desde os dezoito aninhos...
- Fernanda: Já sei... matei a charada... você é gay.
- Cláudio: É isso... você é a maior bichona... viadão.
- Eduardo: Não sou não!!! Eu gosto é de mulher!!!
- Fernanda: Então porque você não me quis? Se você me acha linda, jovem, com corpo bonito, e eu me ofereci toda pra você?
- Eduardo: na verdade eu...
- Cláudio: Não tem desculpa... fique sabendo que por sua causa gastamos um grana preta com psicólogo. Ela ficou com a autoestima lá em baixo...
- Fernanda: Isso mesmo, eu fiquei arrasada; custava você me comer?...
- Eduardo: Mas eu...
- Cláudio: Não tem mas nem menos mas... você é um sujeitinho à toa mesmo.
- Fernanda: Safado... Cretino... Mau-caráter.
- Eduardo: Mas eu...
- Cláudio: Vamos embora... Amor... Deixa esse imprestável pra lá.
Saíram pisando duro e esbravejando.
O “expresso” já estava frio; Eduardo pediu outro; a cafeteria, cheia, havia parado pra ouvir o “triálogo”. Na hora ninguém entendeu nada... nem Eduardo...
Aliás, até hoje ele não sabe explicar pra si mesmo o que houve.
Essa historinha e outras vão fazer parte de um livro que estou preparando chamado “HIPOCRISIA”