Globo terrestre com máscara médica | Foto Premium
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"Jogados à própria sorte"
 
A expectativa da Comunidade Científica  internacional e de especialistas brasileiros era de que o Brasil tinha plenas condições de ter sido um dos melhores exemplos do mundo, em relação à pandemia,  por causa do SUS (Sistema Único de Saúde) e nossa campanha de vacinação, reconhecida mundo afora. Houve também  uma pesquisa conduzida por uma equipe da Universidade de Stanford,  nos Estados Unidos, citando que oitocentos cientistas brasileiros estão presentes na lista dos profissionais mais influentes do Planeta. Imagine se houvesse mais investimentos na Ciência, nosso orgulho seria ainda maior.
 
O reflexo de uma sociedade individualista escancara-se nas festas em todo o país, sem a menor compaixão àqueles que estão na labuta dez horas por dia.   Juramento  à profissão escolhida, salvar vidas. Hoje ouvi uma médica dizendo que fez um acordo com Deus, ela cuida dos que estão debilitados enquanto "Ele" cuida dos filhos dela que ficaram em casa. Infelizmente, o exemplo não veio daquele que ocupa o maior cargo desta nação, tão carente de pão. Inúmeras vezes, a voz do mandatário teve maior poder de decisão do que a voz da ciência, instalando-se aí o caos. Segundo alguns especialistas, somos a maior bomba-relógio da pandemia no planeta.
O comandante da nau(fragada)  Pátria Brasil  desdenhou da ciência, do uso de máscaras, incentivou aglomerações, menosprezou a " vachina" :
"- Não compramos vacina chinesa. Quem manda aqui sou eu!"
Vírus? Que nada! Seria só um resfriadinho, uma gripezinha.

Fatos vexaminosos estampados em letras garrafais, notificados no Brasil e  na imprensa internacional diziam com ar de arrogância, melhor dizendo, perversidade:
"- Todo mundo morre um dia e daí? 
"-Não sou coveiro!"
A cada recorde de mortes, éramos afrontados, ficávamos assustados:
"-Chega de mimimi, vão chorar até quando?"
Tantas outras declarações ironiizando a gravidade do problema tornaram-se recorrentes , nos causando uma insatisfação tamanha.

 
Como se não bastasse esse balaio transbordando insensibilidade e compaixão ao próximo, deparo-me com a imagem do   simpaticíssimo Zé Gotinha nas redes sociais. Estava o nosso mascote com a bandeira do Brasil nas costas, simulando uma capa esvoaçante e segurando uma seringa adaptada a um fuzil. O autor dessa postagem de mau gosto  é denominado    pela frieza de um número, não lembro-me se é 01, 02 ou  03. Na época em que dava aulas, quando ia fazer a chamada dos meus saudosos alunos, não dizia o número, sempre os chamava pelo nome, em respeito à sua pia de batismo, seja ela qual  fosse.  Quem não gostou nem um pouco, repudiando tal fato,   foi o artista plástico, Darlan Rosa,  criador do Zé Gotinha. Disse ele que era um péssimo exemplo, e que era  tudo o que não queria ver. Fiquei pensando, criança rima com esperança, aquietei meu coração, senti pena dessa nação e uma saudade enorme do "Meu Brasil brasileiro", de Lima Barreto,  Carlos Drummond, Caymmi,  Suassuna,  Tom Jobim, Patativa do Assaré, há de se passar essa maré...

Quem perdeu um ente querido nessa época de pandemia, ainda que não seja de Covid-19, sabe quão pisoteada fica a nossa alma, sem termos ao menos o direito de receber um afeto, um abraço sequer. Um abraço seria mesmo em tempos atuais,  o melhor lugar do mundo, amenizaria nossas dores em um segundo...






 

 
Rosa Alves
Enviado por Rosa Alves em 28/03/2021
Reeditado em 30/03/2021
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