O Homem Gentil



Há alguns dias minha vida literalmente cruzou, ainda que por breves instantes, com a de um homem gentil.
Não, ele não beijou minha mão, meu pé e muito menos minha boca, e a propósito, deixemos de lado gestos românticos fugazes contendo segundas ou terceiras intenções; nada contra eles, mas... o homem gentil beijou meu carro!
Aquele homem não tinha a aparência ou as vestes de um típico lorde, e na melhor das hipóteses alguns incautos o chamariam de morador de rua. Por outro lado, ele provavelmente ouviu mais vezes do que deveria lábios pronunciando títulos nada nobres como mendigo, pinguço, cachaceiro, vagabundo...
Mas e os lábios daquele homem gentil? Sorriram e beijaram meu veículo simplesmente porque eu, ao contrário de muitos apressadinhos que consideram pedestres meros seres invisíveis, parei antes de uma faixa de segurança para que ele passasse.
O homem gentil atravessou a rua, mas mais que isso, desfez minha feição tensa e preocupada. Sorri de volta para ele e para mim mesma, certa de que não fazia mais que minha obrigação... mas aquele homem, ele sim, fez o dia de alguém muito mais fluido e sereno.
Grata, Sr. Gentileza, grata!