Aconteceu que a chuva...

Começou a chover do nada, bem no meio do nosso horário de caminhada. Ai não teve outro jeito: tivemos que parar para estiar o temporal debaixo do beiral da Barraca de Temperos do Rei Davi. Aliás, havia mais gente por ali, também fazendo o mesmo que a gente: se esgueirando como podiam dos pingos d’agua gelados que caiam torrencialmente do céu naquele momento.

Nossa caminhada sempre começa mais ou menos às sete da noite, que é mais ou menos quando a minha irmã chega das aulas. Geralmente fazemos um percurso que dura no máximo duas horas, às vezes um pouquinho menos, às vezes um pouquinho mais.

Mas de fato aquele dia acabou sendo menos. Porém, até que foi gostoso dar aquela parada. A visão que tínhamos dali de onde nós estiávamos estava muito bonita. Digo, aqueles carros todos, aquelas luzes, aquelas pessoas, todo aquele burburinho e o aguaceiro despencando, tudo isso lembrava um quadro impressionista, talvez um Monet (moderno).

Sim, Monet. Sabe como é, é tudo uma questão de perspectiva. Se você quiser enxergar apenas “a droga de uma chuva que acabou com o seu role”, é o que você apenas verá. Ou seja, se você é uma dessas pessoas que acha tudo sem graça, tedioso, sem sal, banal, saiba que na verdade tudo que acontece depende muito da sua visão, se ela for limitada, azar o seu.

Todavia, a chuva interrompeu por hora o nosso passeio pelo bairro afora, mas não nosso papo. Naquele dia ainda discutíamos uma questão do dia anterior, que era sobre certas pessoas “serem ou não responsáveis por suas ações”. Caras como eu tendem sempre a serem indulgentes com essas pessoas, responsabilizando não o individuo em si, mas sim a sua ignorância que, segundo nós, é fruto do mal social causado pela falta de educação e oportunidades, seguido da falta de bons valores e princípios.

Mas enfim. Acontece que a chuva, mesmo não interrompendo nossas filosofanças, não nos deu mesmo trégua. Ou melhor, diminui a intensidade apenas o suficiente para não nos molhar tanto na volta pra casa. Porém, os sapatos encharcaram. No dia seguinte tivemos de mudar de calçados.