AS CINZAS DOS CONFETES

Por um instante fechei os olhos e então escutei como que do além, uma remota canção de dizia: “Oh, abram alas que eu quero passar! Oh, abram alas que eu quero passar!”

Logo depois, a intensidade foi diminuindo, diminuindo, até que não mais ouvi.

Então viajei na imaginação. De repente, silenciou-se o pulsante grito que embalava as multidões nos blocos de carnavais. E agora, apenas o eco dos gritos na “Avenida do Samba” ecoava nos ouvidos da ausente plateia, que de casa assistia ao vídeo das lembranças, os desfiles dos passados carnavais.

De repente o “Maior Espetáculo da Terra”, tornou-se um grande esmo nas ôcas e silenciosas ruas e avenidas de todo o país. Onde antes reinava o brilho das grande plumas e paetês, agora apenas as cintilantes e tranquilas plumagens dos pombos e pardais, que calmamente desfilavam e gorjeavam esvoaçantes pelas silenciosas passarelas do samba. Em pleno carnaval a Cidade Maravilhosa, Capital Carnavalesca, não expressou mais seu grito. Nunca se viu tão profundo, o eco do gemido do samba, seguido do inquietante sussurro de dor. O que em trêmulos e balbucios lábios, era possível se interpretar a expressão: “Não deixe o samba morrer, ...!”

Porém, a sociedade perdeu o limite do respeito e o temor a Deus. Os adeptos do reino das trevas, travestiram-se do mal e no carnaval passado, simularam arrastar o Filho de Deus pelo chão do Sambódromo. Invertendo os valores da Palavra de Deus, profanando e envergonhando as sagradas Escrituras. Sob a caótica atitude das expostas vergonhas dos foliões, o povo aplaudiu e apoiou as inconsequentes dissimulações, regidos pela camuflagem das máscaras do mal.

Pois é! Segundo as Escrituras no livro de Gálatas 6: 7, está escrito que “Deus não se deixa escarnecer!” As consequências vieram a galope! Um mês depois do carnaval de 2020, o mundo inteiro estava de joelhos diante de um “rei do mal” com coroa e tudo mais. “O Vírus...!” Então o povo se lembrou de Deus. E todos precisaram cobrir seus rostos e “As Máscaras da Vergonha” foram impostas a todos, justos e injustos, por causa do escárnio do que é Santo. Porém neste ano corrente, por decreto da Suprema Corte Judicial do Criador, “A Vossa Alteza o Rei Momo” lhe foi cassado o direito de “Guardião semanal das chaves das cidades durante o carnaval”.

Tenho observado neste carnaval, situações intrigantes em diversos pontos do Brasil. Pois, desde o “Sábado do Zé Pereira” que as controvérsias anomalias acontecem no país inteiro. O “Zé”, este grande súdito de “Momo”, que com sua grande cabeça, desfilava sobre carruagens, em carreatas pelas ruas das cidades, embalando o grito das multidões na abertura da grande festa da folia, agora encontra-se microcefálico, desmontado e empoeirado no porão de uma garagem qualquer.

Num breve olhar pelo Nordeste brasileiro, podemos ver Em São Luís do Maranhão, que é o pálco do ritmo jamaicano do Reggae, obedeceu ao silêncio dos foliões e a manada de Bumba-meu-boi, permaneceu no curral do distanciamento de porteira trancada, por temer a “Aftosa do Vírus”. Nem “Mateus” nem “Catirina” não se atreveram a pintarem-se com a típica maquiagem, preferindo aconchegarem-se na “tirna” e nas cinzas do fogão.

Em Fortaleza, CE, a romântica estátua de “Iracema” permaneceu ajoelhada na praia do mesmo nome, expressando a tristeza da ausência dos turistas que povoavam aquele ambiente nesta época do carnaval, como também, as Chamas poderosas lançadas pelo do “Dragão do Mar” foram apagadas pela falta do combustível da pujante presença dos foliões, que nem no distanciamento das “Canoas Quebradas” eles se fizeram presentes.

Em João Pessoa, PB, Na Praia de Tambaú, o Busto do Almirante Tamandaré permaneceu contemplando o verde do Atlântico. Sem coragem de olhar para trás, para não ver nem ouvir o assombroso silêncio da cidade. Contentando-se apenas, com o simples som da clássica música tocada pela orquestra natural das ondas, que constantemente tocam o instrumental do seu quebrar, nas areias da praia.

O poderoso bloco carnavalesco das Muriçocas do Miramar, não teve força para voar, nem arrastar as costumeiras multidões que desfilavam sob a agitação dos trios elétricos, desde a praia até o Centro da cidade.

Não se pode ver “As Virgens de Tambaú”, que sempre se travestiram para evidenciarem seus secretos desejos e desfilarem em carros abertos, no gigantesco bloco de folia de rua. Como também o Bloco dos Cafussús, não puderam cantar seu hino que sempre arrastou sua imensidão de foliões como rios dos carnavalescos. A mostrarem seus estravagantes modelos modais de costumeiros hábitos cachaçais, a embalarem as multidões desde a orla litoral até o Varadouro no Centro Histórico, até desaguar no Rio Sanhauá. Nem puderam ser ouvidos, o samba das Escolas tradições, que desfilavam na grande Av. Duarte da Silveira, arrancando gritos e aplausos da fiel plateia, que durante uma semana inteira, abuletava-se nas extensas arquibancadas montadas na grande passarela. Os tambores e os taróis não despertaram, nem levantaram “Os Bois de carnaval”, para apresentarem suas danças e “Os Ala-Ursas” permaneceram em longo e pleno estado de hibernação.

Os gigantes e poderosos “Bonecos de Olinda”, nem conseguiram se erguer. Permaneceram apenas como miniaturas enfileiradas, descansando numa prateleira, a contar a caricata história de personagens influentes do bem ou do mal do nosso sofrido país. Enquanto o solitário turista, do Alto da Sé, observa as íngremes e vazias ladeiras de Olinda, calmamente registra em sua câmera e na mente, àquelas inusitadas cenas do atípico carnaval. A incrível paisagem, iluminada pelo dourado o sol da manhã, reflete no brilho nas pedras que pavimentam as grandes ladeiras, sem as costumeiras aglomerações dos agitados blocos de carnavais, é de causar espanto.

As gaivotas sobrevoam o belíssimo mar azul do Recife e a linda “Veneza Brasileira”, amanhece serenamente banhada pelos Rios Capibaribe e o Beberibe, agora com suas pontes vazias. O característico gigante e majestoso “Galo da Madrugada”, não deu seu cântico que arrasta as multidões. Colombinas e pierrôs não despertaram, porque calou-se a euforia do frevo. Apenas no silêncio das ruas vazias, agora vagava um ébrio, solfejando a saudosa canção do grande Alceu Valença: “Voltei Recife, foi a saudade que me trouxe pelo braço, ...”.

Enquanto em Maceió, AL, a beleza do azul piscina continua no mar de Pajuçara. Porém a grande estátua da Sereia, encontra-se estagnada, sem entender o que está a acontecer. Todavia, segue embalada pelo sopro da brisa do mar e ao mesmo som das ondas, não consegue libertar seu melódico cântico de carnaval e permanece ali entristecida pela ausência das aglomerações foliônicas. Na deserta Chã da Jaqueira, apenas o cântico dos sabiás e outros pássaros, conseguem quebrar o silêncio do estranho carnaval.

A pausa no balanço de Axé Music, e o silêncio dos tambores do Olodum, impediram o despertar da Capital Salvador, BA. E não havendo o combustível dos foliões que abastece os trios elétricos, estes, permaneceram desligados em seus pátios. O solitário o silêncio da Pça. Castro Alves, poetisa a libertação dos momescos escravos carnavalescos, que se dissiparam nas diversas direções. As ensolaradas praias de todo o Nordeste, permaneceram amarelas e marcadas por alguns poucos banhistas, que entre desafios e contrições, expressaram suas podadas liberdades de curtir o mar.

Tudo isso parece um sonho!

De repente era sábado e num piscar de olhos, não sei se dormi neste meio tempo, mas despertei com alguém tossindo, tossindo e já era “Quarta-Feira de Cinzas”. Olhei da varanda do meu quanto e percebi alguém ainda com máscaras de proteção, que estava varrendo “As Cinzas dos Confetes” queimados deste atípico carnaval.

João Pessoa, 15 de fevereiro de 2021.

Dom Antonio Joaquim Alves (Poeta Thiago Alves)

World Parlament of Security and Peace WPO - Embaixador Mundial da Paz, Núcleo Paraíba/ Brasil.

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CONCLAB, Confederação Nacional de Ciências Letras e Artes do Brasil - Acadêmico Titular Imortal da Cadeira: Nº 92 - Patrono: Thiago Alves;

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Global Academy of Letters AGL – Imortal Titular da Cadeira Perpétua Nº 008 – Patrono: Tiradentes;

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Academia de Cordel do Vale do Paraíba – Cadeira Nº 25 – Patrono: Catulo da Paixão Cearense;

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Academia Luso-Brasileira de Artes e Poesias – Cadeira Nº 25 – Patrono: Castro Alves.

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Instagram: @thiago.alves.poeta

Site: https://thiagoalves.recantodasletras.com.br/

A Arte de Thiago Alves
Enviado por A Arte de Thiago Alves em 15/02/2021
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