A MARCA

Marquinho tinha convicções muito fortes. Era uma pessoa decidida e quando tomava uma decisão não ousava voltar atrás. Afinal de contas tinha que manter a sua fama de homem de opinião. O que iriam pensar dele se fraquejasse, voltasse atrás e negasse o que havia dito ? Não! Isso não podia acontecer. Convicção é tudo nessa vida.

A marca de marquinho é ser um homem de opinião. E essa não era uma marquinha qualquer, não, era a marquinha de marquinho. Na verdade era a marcona de marquinho, porque Marquinho, segundo Marquinho não era Marquinho, mas sim Marcão Sua personalidade contrastava com o diminutivo em seu nome.

Marco que carregava essa marca sabia que não precisava muito para tiras suas conclusões. As frases contendo verdades pareciam brotar das pedras do chão ou desabrochar como flores no jardim. Já estava certo de que: todo baiano, loira e português eram burros; todo negro preguiçoso; toda mulher má motorista; todo político desonesto; advogados safados; padres pedófilos e os evangélicos ladrões Estava tudo certo. O quadro todo formado.

Não precisava pensar, tudo estava pronto, só não via quem era cego.

Mas daí vieram as eleições. E Marco defendeu ferrenhamente seu candidato que era para ele o herói perfeito, o salvador da pátrtia. O homem honesto inteligente, capacitado, defensor da família e valores cristãos e dotados outras inúmeros e incontestáveis qualidades. Esse sim, esse valia a pena. E as mensagens que chegavam comprovavam tudo isso. Sem permitir que se se movimentassem muito, aplicou logo a sua marca, O M bem no lombo das cogitações. Dúvida era palavra que não constava no seu dicionário. Coisa de gente frouxa. É esse e não tem conversa.

A posse chegou, o tempo passou e não teve jeito, Marco foi obrigado a voltar atrás, mudar de opinião. Perdeu o voto, a marca e as certezas.

Votar, viver e formular opiniões sem pensar, nunca mais