DAS VIOLÊNCIAS DO CANGAÇO - UMA CRIANÇA NA MIRA DE AZULÃO
DAS VIOLÊNCIAS DO CANGAÇO - UMA CRIANÇA NA MIRA DE AZULÃO
*Rangel Alves da Costa
Nascido a 06 de janeiro de 1932, atualmente aos 89 anos, Odilon é o único sobrevivente do terrível e triste episódio sertanejo conhecido como Chacina do Couro, ocorrido nos sertões de Poço Redondo a 13 de junho daquele ano.
Na chacina comandada pelo cangaceiro Gato, tendo ao lado Suspeita, Azulão, Medalha e Cajueiro, sete sertanejos foram mortos (Antônio Monteiro, o menino Galdino, Alfredo, Clemente, Doroteu, Zé Bonitinho e João de Clemente) na perversa e sangrenta investida. Mataram dois, depois mais três e mais dois, numa aterrorizante sequência de derramamento de sangue inocente.
Sim, pois todos que foram mortos eram completamente inocentes, nada tinham a ver com a ira de Lampião pelo sumiço de selas e arreios que haviam sido enterradas na região do Couro (na divisa de Poço Redondo com a baiana Serra Negra) e foram encontradas por Temístocles de Mané José, e depois levadas para a delegacia de Serra Negra e entregues ao delegado João Batista, irmão do coronel João Maria e do comandante de volante Liberato de Carvalho.
Mas foram inocentes sertanejos, moradores de fazendas pelos arredores, que sofreram, foram torturados e sete acabaram perdendo a vida pela fúria insana de Gato. Ora, que se imagine um perverso e frio cangaceiro recebendo ordens de Lampião para matar. Só que as ordens recebidas visavam outros sertanejos, e não os que foram mortos. Como não encontrou aqueles que deveriam ser executados, então a cangaceirama comandada foi fria e cruelmente matando quem encontrou pela frente.
E por pouco Odilon, com apenas seis meses de vida, não entrou para a terrível estatística. Não teve a mesma sorte o menino Galdino, que contava com apenas sete anos quando foi morto. Talvez tivesse sido os sorrisos e os gestuais tão próprios das crianças que livram da morte Odilon.
Quando os cangaceiros chegaram à casa de seu avô Antônio Monteiro, sua avó e sua mãe logo foram amarradas. Monteiro, o patriarca, seria levado como troféu. Dona Maria, avó de Odilon, foi amarrada sentada ao chão e presa junto à madeira da cama. Já sua filha Olímpia, mãe da criancinha, foi amarrada, e por apenas um braço, no cadilho da rede onde seu filho estava deitado.
Em recente conversa com Odilon, o mesmo confessou que depois ouviu dizer ter sido salvo pelo milagre que protege toda criança, pois uma arma chegou a ser apontada em sua direção. Deitada na rede, sorrindo, esperneando, gesticulando feliz como toda criança faz, Odilon nem de longe imaginava a tragédia ao redor nem o significado daquelas feras humanas olhando em sua direção.
Mas quando Azulão apontou em sua direção, antes de apertar o gatilho outro cangaceiro apressou-se a dizer que se matassem uma criança daquela nunca mais seriam nada, o pior destino estaria logo adiante. Então Azulão retrocedeu e a cangaceirama saiu da moradia levando amarrado Monteiro, o avô da criança. E para logo ser morto.
Escritor
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