Palavra Solta - no alto do monte, como um solitário monge...

Palavra Solta - no alto do monte, como um solitário monge...

*Rangel Alves da Costa

Não há meio termo entre o alto e o chão. Ou se está lá ou se está aqui, no reles do nada. Olhar adiante, onde as pessoas caminham entre seus inimigos, entre estranhezas, torpezas e falsidades, é seguir a lugar nenhum. Olhar para o alto, para o cume do monte, lá nas alturas perto do céu, é como procurar asas para voar. Então resta fechar a porta e seguir, passo a passo, levando um cajado à mão, e subir e subir os degraus arenosos do monte. Quanto cansaço na caminhada, mas quanta esperança boa no coração. O mundo frio, violento e voraz, vai se distanciando a cada degrau subido. Tudo vai ficando pequeno demais lá embaixo, como é a pequenez do mundo lá embaixo. O cajado parece encorajar na subida. Um pássaro surge entre as nuvens para pousar ao ombro. Um ar celestial, cheirando a verdor e a silêncio, vai tomando os espaços. E de repente o cume, o ponto mais alto do cume. Mas, para espanto, não estava sozinho. Ali um velho senhor descansava seus cabelos longos e sua barba alongada e branca sobre a mudez instigante das horas. Ele erguia a mão e nela trazia um pássaro. Erguia outra mão e nela trazia uma nuvem. Não olhou para o visitante recém-chegado, apenas dizendo: Se veio encontrar o Senhor, então tome o meu lugar. Mais ao alto estarei quando me chamar!

Escritor

blograngel-sertao.blogspot.com