AINDA MORO AQUI

AINDA MORO AQUI

Nesse agreste de Jequié, desde 1964, vivo meus dias entre os cactos, mas também junto ao cacau.
Fiz recanto entre as serras, macaxeiras e as libélulas, se estas últimas lavam as bundas sobre o rio, que hoje é só esgoto abissal.
Rio das Contas que o tropeiro, depois de ser canoeiro, fez nas feiras e saraus.
Mas ainda há espaço para esquecer o cangaço, pois já foi meu Portugal.
Só sobrou a minha África, com os bantos lá na praça, pra ceifar canavial.
Só aí lembro da origem, onde eu visse o aborígene, que não quer lembrar Cabral.
E no canto das cigarras, lembro o tempo da invernada, quando a casa tem quintal. Pois ali tinha poleiro, a pocilga e o jambeiro, onde canta um cardeal.
Meu jequiezinho foi infância, mas a luta da ganância nos levou pra Capital.
Lá eu vi um ACM, um João ou Baleeiro, que juntou Campus inteiro, como um fardo no embornal.
E os anos foram longe, que agora sou um cônjuge, que cria flor e recital.
Mas antes de ser poeta, fui da farda que é correta, costurando a lei nas setas, que transitam além do mal. Só depois do parabellum, da escopeta e o violão celo, hoje as letras são meu sal.
E o tempero que macero, me faz dissecar meu verbo, e o fascínio que postergo, quando adentro em meu portal.
Mas uma árvore vira aderno, pois diante do eterno, só estrela é festival, pois transcende o nosso tempo, mesmo quando chega o vento da poeira colossal, que são nuvens de galáxias e cometas pelas praças, ou quasar do bem e o mal.
E eu contorno a Via Láctea, com meu Sol em uma caixa e os planetas no varal. Mesmo que tenha Saturno, mas Plutão é o meu miúdo no tempero ancestral, pois é tudo energia, que nem minha utopia me reveste de agonia, por ser simples animal.
Por tudo isso, ainda moro aqui, pois o Universo celeste, é meu colo inconteste e o meu berço imortal.

💫☀️💫