Palavra Solta - o amor

Palavra Solta - o amor

*Rangel Alves da Costa

Lembro bem. Piscava o olho querendo namorar. Beijava na mão e soprava querendo dizer do amor sentido. Escrevia bilhetinho revelando segredos do coração. Deixava um versinho dentro do caderno e depois corria com vergonha da reação da paixão. Abria um coração num troco de árvore e deixava, presos por uma flecha, os dois nomes enamorados. Deixava uma flor no cantinho da janela e depois se escondia atrás de um tufo de mato. Roubava flor no jardim ou fruta madura no quintal e fazia chegar a quem tanto gostava. Num banco de jardim, sentar cada um na pontinha, distante um do outro, e aos poucos ir se achegando na esperança de sentir a pele tocando na pele, na esperança maior de um beijo. Primeiro ir tentando pegar na mão, devagarzinho, como quem não quer nada. Ouvir a voz dizer baixinho, tomada de acanhamento: “tô com vergonha!”. E ter a coragem maior do mundo para colocar olhos nos olhos, estender a mão, segurar na face e querer perguntar: “posso beijar?”. Mas não perguntava. A vergonha estremecia o corpo, fazia sumir a voz, deixava sem saber o que fazer. Mas de repente, o lábio vai procurando o outro lábio. E se o outro lábio aceita a quentura do lábio que se aproxima, e corresponde indo ao encontro, então os olhos se fecham. E não há mais terra, não há mais chão, nem banco de praça. Tudo é somente voo, nuvem, encantamento. Até que, depois de planar pelos incompreensíveis espaços, os olhos reabrem e a boca trêmula diz: Te amo!

Escritor

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