HAVIA UM OUTRO TEMPO
Este sou eu em menino
Com cara de anjo fino
De pureza na expressão
Sou eu no pé da Serra criado
Vivendo no solo amado
Guardado na emoção.
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Havia um outro tempo.
Carlos Silva
Havia um tempo sonoro, que tudo traduzia música e as pessoas gostavam de dançar DE ROSTO COLADO, acariciando a nuca, alisando os cabelos, ou fazendo um leve carinho pelas costas.
Havia um tempo, em que na roça de Dona Glorinha, tinha manga de várias espécies, e ela dizia com voz carinhosa: Leve algumas mangas para sua mãe.
O mesmo acontecia com o Sr. Marciano, que tirava aipim, juntava umas laranjas e dizia: Leve para comadre Pureza.
Havia um tempo em que eu ainda criança, ajudava fazer pão, e o padeiro, no final do dia, me autorizava levar um monte de pão, e eu ia satisfeito para casa para dividir com os meus irmãos.
Havia um tempo em que os baleiros eram cheios de balas Juquinha, Toff, chicletes Ping-pong e também tinha na prateleira da venda de "Seu"Joaquim, a parte de Q-suco de morango, groselha, abacaxi, uva que eram as maiores delícias que mamãe fazia pro nosso lanche da tarde com os "GOSTOSOS DELICIOSOS OS BISCOITOS TUPY". Sim, igual aquele do comercial da TV, que sempre passava quando a gente assistia filmes como: Daniel Boone, Tarzan, Zorro, Túnel do tempo e outros.
Havia um tempo em que éramos convidados a "GRITAR PALHAÇO" e saíamos pelas ruas seguindo o palhaço e em coro respondiamos ao seu comando, quando ele perguntava:
"Hoje tem espetáculo? - tem sim senhor. As oito horas da noite? - tem sim senhor, E o palhaço o que é? - É ladrão de mulher"
Um tempo em que dar a bênção aos mais velhos, era a maior expressão de respeito.
Sim, Havia um tempo em que brincar, era ofício, e ser feliz era obrigação sagrada para toda criança.
Havia um tempo, em que mesmo sabendo que do outro lado do mundo havia guerra, nós semeavamos a paz nos campinhos improvisados.
Hoje... bem, hoje tudo é diferente, as coisas passaram para nunca mais recebermos o doce tempo de ser criança.
As crianças do meu tempo cresceram, tomaram rumos diferentes, alguns se perderam nas mãos das "fáceis oportunidades" e conheceram grades que impediam de seguir seus rumos corretos.
Outros encontraram nos vícios, a fuga por não suportar a realidade e a dureza que a vida lhe trouxera.
Alguns destes, morreram distantes da sua cidade natal e outros erraram os caminhos de volta para nunca mais acertar.
Todavia, muitos já são pais, avós e vivem de doces e tão memoráveis lembranças, e sempre que tem oportunidades, é comum ouvi-los dizer com tom saudosista e com lágrimas que lhe lambe os olhos: No meu tempo...