NOS PÍNCAROS DA GLÓRIA

Figura de destaque nos meios estudantis de vanguarda do Colégio Júlio de Castilhos, “negão” Luís Paulo, pouco abonado, trabalhador e muito inteligente, fazia questão de dizer que morava nos “píncaros da Glória”, quer dizer, no bairro Glória da Capital, em algum “píncaro” que desconheço. Aposentou-se como Inspetor da extinta Caixa Econômica Estadual, era alguns anos mais velho e não tenho a menor ideia de seu paradeiro. Sempre gostei muito dele. No último ano do Julinho, quando aparentemente estive “pela bola sete”, um mês de cama, visitou-me duas ou três vezes e conheceu toda a família, que também o apreciava. Ponto. Quando eu era moço, cantavam-me, a título de chacota, a música do Cauby Peixoto: “Conceição, eu me lembro muito bem... Se subiu, ninguém sabe, ninguém viu”. Gracinhas dos anos 60. O que estou em vias de narrar é que minha geração conheceu de tudo um pouco e produziu tipos diferenciados. Toda geração repete o movimento, mas estou a tratar da minha. Na Faculdade de Direito da UFRGS, quando minha turma está a exaltar os 50 anos de formatura (1970), ocorre-me assinalar algumas singularidades, arriscando o esquecimento de outras: colega filósofo, de renome internacional, com doutorado na Alemanha e que nos acompanhou em nosso primeiro ano; primeira mulher Ministra do STF; mulher Subprocuradora da República; Presidente do TJ/RS, assim como do nosso TRF; Desembargadores Federais e Estaduais e altos membros do MP, estadual e federal; Juízes e Promotores; Presidente da OAB/RS; Empresários de grandes redes; Advogados de festejado sucesso profissional; Secretários de Estado e Presidentes de Bancos e, também, este que ora escreve com muito orgulho e que “se subiu, ninguém sabe, ninguém viu”. Após 50 anos de formação, afinal, a visão tende a ficar turva e curta.