Escritores autodidatas

Um (a) escritor (a) ou poeta não precisa de conhecimentos extraordinários nem de palavras difíceis para adornarem os seus escritos, mas de sabedoria, imaginação e sensibilidade. Em outras palavras, um (a) escritor (a) ou poeta não precisa ter formação universitária; basta conhecer o alfabeto e saber formar as palavras, ter vontade e imaginação, que colherá bons frutos.

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no dia 21 de junho de 1839, no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro; e morreu no dia 29 de setembro de 1908, no Rio de Janeiro, antigo estado da Guanabara. Era mulato, filho de Francisco Jose de Assis, pintor de parede, negro, filho de escravos alforriados, e de Maria Leopoldina da Câmara, lavadeira, portuguesa e branca. Machado iniciou os seus estudos numa escola pública, mas logo abandonou. Por frequentar missas da Igreja Católica e gostar muito de livros, se tornou amigo do Padre Silveira Sarmento, seu mentor em latim. Em 1854, publicou o seu primeiro soneto dedicado à “Ilustríssima Senhora D.P.J.A.”, com assinatura J.M.M.Assis, no Periódico dos Pobres. Em 1855 passou a frequentar a livraria do jornalista e tipografo Francisco de Paula Brito, que publicou os seus poemas “Ela” e “Palmeira” na Marmota Fluminense, revista bimensal da livraria. A referida revista era também um ponto de encontro de intelectuais do Rio de Janeiro.

Machado de Assis, aos 17 anos foi contratado com aprendiz de tipógrafo e revisor de imprensa na Imprensa Nacional, onde conheceu Manuel Antônio de Almeida, médico, escritor e professor, que o incentivou a seguir carreira como escritor. Machado era poeta, contista e dramaturgo e colaborador de vários jornais e revistas; ocupou vários cargos públicos. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, e o seu primeiro presidente. É considerado pela crítica um dos maiores escritores negros da língua portuguesa de todos os tempos, mesmo não tendo frequentado escola. Era um autodidata, com muito talento e imaginação para escrever, e ainda se tornara intelectual renomado na época.

Carolina Maria de Jesus ou Carolina de Jesus nasceu em Sacramento no dia 14 de março de 1914, e morreu em 13 de fevereiro de 1977, em São Paulo, capital; era negra, filha ilegítima de um homem casado. Estudou só até o 2º ano. Em 1937 sua mãe morreu e, desempregada, mudou-se para a metrópole de São Paulo. Em 1947, instalou-se na extinta favela do Canindé, zona norte de São Paulo, que tinha cerca de 50 mil habitantes, e foi trabalhar de doméstica na casa do notório cardiologista Euryclides de Jesus Zerbini, médico precursor de cirurgia do coração no Brasil, que lhe permitiu que frequentasse a sua biblioteca e assim tomou gosto pela leitura e literatura. Em 1948 teve o seu primeiro filho, João Jose; 1949, José Carlos e 1953, Vera Eunice, e os criou sozinha; e passou trabalhar como catadora de papel, fez a sua própria casa de madeira, lata e papelão.

Em 1955, Carolina de Jesus, iniciou escrever um diário que registrava o cotidiano da comunidade em que morava, e que deu origem a um livro publicado em 1960 com o auxílio do jornalista Audálio Dantas intitulado “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, ” que se tornou best seller, com mais de um milhão de cópias vendidas e traduzido para catorze línguas. Fez ainda mais três edições, um total de 100 mil exemplares, traduzido para treze idiomas e publicados em mais de 40 países, e em 1962, foi publicado nos Estados Unidos pela editora E. P. Dutton com o título Child of the Dark. Publicou mais 4 livros em vida, e 6 póstumos. Apesar do sucesso das vendas de seus livros, não ganhou dinheiro, foi enganada pelas editoras e voltou a catar papel. Por ser negra, pobre e sem formação escolar, não fora aceita por seus contemporâneos acadêmicos. Mas, hoje, é reconhecida como uma das maiores escritoras negras do país.

Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, mais conhecida com o pseudônimo de Cora Coralina, nasceu na cidade de Goiás, em 20 de agosto de 1889; e morreu em Goiânia no dia 10 de abril de 1985. Era de cor branca, filha de Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, desembargador nomeado por D. Pedro II, e de Dona Jacyntha Luiza do Couto Brandão. Estudou até a 4ª série e começou a escrever aos 14 anos com muitos erros de gramática. Em 1911, foi morar por várias cidades do Estado de São Paulo com o advogado Cantidio Tolentino de Figueiredo Bretas, com quem teve 06 filhos. Depois de ficar viúva, voltou a morar na cidade de Goiás em 1956, numa casa antiga construída em estilo colonial, às margens do Rio Vermelho e perto duma ponte. E Anninha além de poetisa virou doceira famosa na circunvizinhança.

Em 1965, aos 76 anos de idade, publicou o seu primeiro livro intitulado “Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. ”, pela editora José Olympio. Ao ser descoberta por professores da Universidade Federal de Goiás que se encantaram com o seu livro, publicou a 2ª edição em 1978 e a 3ª edição em 1980. Publicou ainda os livros Meu Livro de Cordel, em 1976, e Vintém de Cobre – Meias Confissões de Aninha, em 1983, pela editora Global. Foi reconhecida nacionalmente por seu estilo simples e espontâneo de escrever, e recebeu vários títulos e prêmios como o Juca Pato de 1983, ao ser escolhida a intelectual do ano. Vale ressalta que a casa onde morava conhecida como “A Casa Velha da Ponte” foi transformada no Museu Casa de Cora Coralina.

Pelo visto, antigamente a escola pública não contemplava toda a população e eram distantes, e ainda havia o tabu das mulheres não frequentarem à escola por não serem assediadas. Só os ricos podiam pagar seus estudos, e se formavam em outros países como França e Portugal. Por esse motivo, muitos escritores e poetas eram autodidatas, aprendiam a ler e a escrever sozinhos. Hoje em dia há muitas escolas e universidades públicas e privadas disponíveis para toda as classes sociais, mas faltam pessoas vocacionadas para a literatura, talvez pela falta de incentivo. Finalizando, não precisamos de formação acadêmica para sermos escritores ou poetas; basta apenas termos vontade, imaginação e sensibilidade, que o amadurecimento virá com o tempo.

Goiânia, 01-12-2020

Alonso Rodrigues Pimentel
Enviado por Alonso Rodrigues Pimentel em 05/12/2020
Reeditado em 05/12/2020
Código do texto: T7128204
Classificação de conteúdo: seguro