FAZ TEMPO QUE NÃO TE VEJO
O tempo e o destino, traçaram rumos e metas diferentes para cada um de nós.
Perdoe-me amigo, se não lembro mais o seu rosto, se esqueci de verdade o retrato do teu estampado inocente sorriso, por não saber hoje medir o tamanho do abraço que a gente deu na partida, ou da lágrima que timidamente tentávamos esconder, pois sabíamos que a distância nos separaria dos campinhos de bola, das bolas de meia, das bolinhas de gude, das cocadas, dos ki-sucos na feira, dos dias de chuvas a correr pela rua, ou fazendo barquinhos para que fossem levados pelas enxurradas. Dói no peito esse lembrar, e hoje, por não ter um ombro amigo, choro sozinho as minhas lembranças. Quem dera...
Quem dera eu poder voltar no tempo onde a civilização não tivesse me engolido e voltar a correr pelas ruas em dias chuvosos, só para ter o prazer de ser criança outra vez
Mesmo sem poder medir, sinto saudades das nossas mãos se encontrando, das nossas conversas e brincadeiras no recreio, ou da saída do “Prédio Escolar” onde dividíamos os primeiros saberes para o nosso caminhar.
Tínhamos 10 anos, hoje estou com 68 e nunca mais tive a grata alegria doada pela vida em reencontra-lo.
Mas nos vemos, ao ver os meus netos correr atrás de uma bola (Não mais de meia) calcando os pés (não na lama) mas na grama macia do jardim da minha casa onde hoje repouso meus pensares prazerosos, em momentos de memórias e saudades sentidas.
Em minha mente, em algum lugar do meu cérebro, restou-me o recordar do teu nome: Pedrinho de Lia. (Cabeça de traíra) era essa alcunha que você tinha e que por sinal não gostava.
Ainda guardo as bolinhas de gude que ganhei de você. Eu as guardei como forma de sempre lembrar de uma infância que o tempo arrastou para o bem distante, junto a tantas chuvas que molharam essas nossas separadas e tão longínquas terras chamadas lembranças e saudades.
Por onde anda Pedrinho, e os demais que juntávamos, em baixo da jaqueira, para decidir qual a próxima aventura que faríamos naquele dia. As opções eram: Açude, Tanque Grande ou simplesmente caminhar até o Pé da Serra.
Éramos muitos, mas tem um que marca mais o nosso trilhar, o mais amável, o mais engraçado, o mais chegado, o mais amigo. Sempre tem um que o destino separa para nós, como se para marcar a nossa vida, e evitar que nos esqueçamos que um dia tivemos uma infância que carregaremos pro resto das nossas vidas.
De certo que eu trocaria o que tornei-me, ao longo da minha caminhada, para voltar a ser por alguns instantes a doce oportunidade de voltar a fazer os meus barquinhos de papel e solta-los pelas enxurradas das ruas, junto ao meu inesquecível amigo Pedrinho de lia, que sei que jamais o verei, mas que peço a Deus, que se ele ainda estiver nessa terra, que Deus possa abençoa-lo como fez comigo, tornando-lhe um Homem de sucesso na vida, igualzinho Ele fez comigo. Abraço-me nesse momento com lágrimas caindo feito as enxurradas que conduziam nossos barquinhos, na esperança que Pedrinho, onde quer que ele esteja receba esse abraçar.
Com amor, e com muitas saudades, despeço-me, para que as lágrimas não me sufoquem de tristeza, lembrança e dor levado pela saudade.