VIDA LONGA?
Gosto demais dos jovens: filhos, netos, parentes, ex-alunos, vizinhos, a gente se renova sempre. A juventude é uma das nossas grandes alegrias. Mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa: o compartilhamento de ideias e sentimentos da mesma geração mantêm a identidade e o grande sentido de viver da pessoa. Memórias, conceitos, vivências e certos deleites são próprios dos que experimentaram uma trajetória mais longa da história e ansiaram por determinadas aspirações comuns. Se alguém não entende, irá entender oportunamente. O retempero é uma beleza, mas as perdas e os inevitáveis afastamentos aprofundam o buraco negro. Seria maravilhoso acompanhar o florescimento jovem, com todas as suas conquistas, se não houvesse tantas separações na jornada ou tanto esquecimento. O calendário existencial é misterioso, uns vão bem mais longe, outros tombam inexplicavelmente em meio caminho. São os Fados, o Destino ou as Moiras lúgubres da mitologia grega. Os da minha geração, às vezes perplexos, procurariam o sentido para tantas coisas absolutamente sem sentido a que assistimos, ou, pior, que experimentamos na própria pele. Com o perdão dos mais jovens ou dos conformistas, eu próprio tenho dificuldade para acreditar em muitas coisas que vejo, ouço ou leio. Sorte dos avós e dos pais que já partiram, pois estariam assaz desconfortáveis. Nós, de um jeito ou de outro, vamos levando, entre tapas e beijos, sorrisos, gargalhadas e lágrimas. Em outros tempos, não muito distantes, eu costumava dizer que só não tinha visto vaca voando: ainda não tenho a prova definitiva, mas existem algumas delas voando por aí. A idade força-nos a examinar os fatos filosoficamente, sem grande estresse. Enfim, viver bastante é bom, a vida instintivamente repele a morte, mas, talvez (apenas digo talvez), uma longa vida fosse penosa dentro de todo este contexto. Ou não, milagres acontecem.