Lembranças da Polícia Civil
Em 1986 após concluir o curso de formação de Agente de Polícia da Polícia Civil de Goiás, fui lotado na delegacia geral de Polícia de Rio Verde, única da cidade até aquele momento. No mesmo ano tivera êxito no vestibular para o curso de Direito da FESURV – Fundação de Ensino Superior de Rio Verde, que estava começando, hoje conhecida por UNIRV – Universidade de Rio Verde. O meu sonho de adolescente era cursar Geografia, mas o destino me enveredou por outro caminho também brilhante.
A cidade de Rio Verde das abóboras como era conhecida começava a se despontar no agronegócio no estado e no país, era também conhecida pela política influente no Estado e pela violência, com muitos homicídios. Um juiz de Direito havia pouco tempo assassinado. Devido a abundância de riqueza, a criminalidade também era alta. Havia poucos policiais. A Polícia Civil assim como a Militar tinha poucos recursos, e os salários eram baixos.
No ano seguinte, houve uma fuga de dois presos de alta periculosidade da cadeia pública. Foram acionadas várias viaturas das polícias Civil e Militar para a captura dos detentos. Eu e o decano Sebastião (in memoriam) conhecido na cidade por Carioca, que passara da hora de se aposentar por gostar da profissão, saímos por derradeiros numa viatura Fiat 147. O carioca foi dirigindo bem devagar, e pegamos a rodovia BR-060 com destino a Jataí, e logo eu os avistei à beira de um pequeno córrego, e disse para o Carioca: Ali estão eles, pare a viatura, vamos pegá-los. Descemos rapidamente com armas em punho e os prendemos, estavam desarmados e não reagiram. Algemamo-los e os levamos para a delegacia. O comandante da PM fez um elogio ao nosso trabalho que foi encaminhado à Diretoria da Polícia Civil.
Ainda no ano de 1987, fui incumbido de levar uma intimação referente a uma ocorrência de um homicídio, e conversando com alguns moradores do setor descobri o paradeiro do suspeito de vários homicídios. Fiz um relatório com os dados do investigado e passei para o delegado. O rapaz foi preso e confessou os seus crimes, dentro da cadeia se converteu ao Cristianismo, e depois de alguns anos saiu por bom comportamento, se tornou pastor e nunca mais voltou a ser preso. Naquela época era intenso o trabalho de evangelização dentro do presídio. Não sei como está hoje.
Em 1988, perdi o meu melhor amigo na Polícia Civil, de nome Valdeci Antônio da Silva, nunca esqueço o seu nome. Tinha vinte e poucos anos, era conhecedor da palavra de Deus assim como eu; e estava indo a um evento religioso quando a Kombi que dirigia estragou na rodovia, e ao empurrá-la com outros crentes, foi atropelado por um veículo e não resistiu aos ferimentos. Fui no seu velório no Jardim Nova Esperança, em Goiânia, e seus parentes e amigos estavam tristes devido a sua morte precoce. Deixei os meus pêsames à sua família e amigos. Lembro-me que fizemos o curso juntos e fomos para Rio Verde em seu Volkswagen Passat, e morávamos num alojamento nas dependências da Delegacia.
Goiânia, 07-11-2020