GALINHA MORTA
Há muitos anos, meu pai, aposentado, comprou um belo sítio na Barra do Ribeiro, a pouco menos de uma hora da Capital. Era uma fazendola com 110 hectares, onde criava gado (havia inclusive brete), poucos cavalos mansos, porcos, galinhas, gansos sinaleiros, perus, tinha açude e área para a plantação de arroz (arrendada). Construiu uma boa e ampla residência, ficando a antiga sede para abrigar o caseiro. Plantou muitas e muitas espécies de frutíferas e cultivava horta. Quem mais gostava de ali passar alguns dias, além dele, era minha avó Aldina Rodda Ghisoni, creio que já perto dos 90 anos (faleceu com 96). Vó Dina era mulher muito esperta: filha de imigrantes italianos da região de Milão, na Itália, tinha três irmãos, Higino, Hugo e Joãozinho e fora esposa do já então falecido avô espírita militante, José Simões de Matos. Todo este introito para contar que, ao tempo do primeiro caseiro, sempre que visitavam a propriedade, encontravam galinhas esgualepadas - estranhamente arrombadas e mortas. As explicações do caseiro não satisfaziam as dúvidas do “velho”, mas o evento repetia-se. Um dia, minha avó, tendo visto o estado de umas duas galinhas arrebentadas, chamou o pai num canto e lhe disse: “Darcy, bota na rua o caseiro.” O pai pensou um pouco e logo entendeu: o cinquentão, que vivia sozinho no mato, era tomado pela paixão galinácea e a coisa toda acontecia. Vó Dina não era nada boba.