Liberdade sexual aos idosos
Assumo a responsabilidade de escrever parcas linhas a respeito do tema em epígrafe, que oferece abertura para salutar discussão. Contudo, deve-se levar em consideração, que, desde há pouco tempo se pode falar, escrever, ou, até mesmo pensar sobre a vida sexual dos idosos.
O envelhecimento da população planetária marcha em rápidos passos para o futuro. Calcula-se que uma em cada cinco pessoas na população mundial terá mais de 60 anos em 2050, o que representará 2 bilhões de pessoas idosas, encaixando-se nessa estatística 50 milhões de brasileiros (1). Um dado inquietante, porque, não se pode negar, o preconceito dirigido aos idosos grassa em larga escala pelo meio social. A falha cultural evidencia-se quando a pessoa preconceituosa é "provocada" a apresentar um argumento fundamentado para as suas assertivas descabidas.
A velhice, enquanto fase tardia da vida, ainda é, no ponto de vista de muitos, assinalada como sinônimo de decrepitude e incapacidade, sejam essas de ordem física ou mental, o que torna os idosos improdutivos para as questões socioeconômicas e para a seara da abordagem cultural. Da mesma forma, a sexualidade, quando interligada ao envelhecimento, expressa mitos, tabus e preconceitos que resultam do entendimento de que idosos são pessoas assexuadas.
Faz-se necessária uma mudança dos padrões culturais opressores que visem a eliminação das interferências carregadas de estigmas e repreensões na vivência da sexualidade dos idosos. É comum, por exemplo, a disseminação do pensamento de que, obrigatoriamente, homens e mulheres com mais idade necessitam despender algum dinheiro ou muito dinheiro para atrairem pessoas para os seus relacionamentos amorosos e/ou sexuais. E, ainda que fosse isso uma verdade irrebatível, os idosos em sã consciência dos seus atos nada teriam que explicar a ninguém, porque gastariam as próprias conquistas.
Julgamentos desse teor e a vigilância social constantes fazem com que as pessoas idosas se sintam embaraçadas ao expressarem com naturalidade suas identidades sexuais. Em consequência, assimilam imagens deformadas como verdades, o que lhes geram privações pessoais para se ajustarem às expectativas sociais.
Em passado ainda não considerado tão remoto, tudo era tabu... ou, quase tudo. Impossível imaginar, que, aos 60 anos, homens e mulheres se exibissem com galhardia no mundo social.
Como visualizar que mulheres idosas fossem às praias vestidas em biquínis, sem medo de mostrarem os corpos ainda bonitos e admirados por olhares alheios? Da mesma forma, inadmissível que apreciassem o corpo masculino mais jovem, da sua idade ou mais velho. Hoje, é o que se vê. Nem por isso, sexualmente pervertidas! O mesmo vale para os homens: sarados, bronzeados e ativos na vida sexual aos 60 ou 65 anos, e, sabe-se lá até quando! Belos homens, mais sedutores pela experiência vivida, uns apreciam mulheres mais jovens, outros, as da sua idade, e, outros ainda, preferem a sedução oferecida por mulheres mais velhas do que eles próprios. Hoje, é o que se vê. Nem por isso, sexualmente pervertidos!
Aprenda-se de uma vez por todas, que juventude, beleza e dinheiro não suscitam, necessariamente, charme, sensualidade e o dom da atração.
Idosos e idosas merecem o direito à busca da felicidade - desde que respeitem o próximo, o que se espera de todas as pessoas, em quaisquer idades. Isso se fará, em primeiro lugar, com o estabelecimento de uma qualidade de vida relacionada à saúde (health-related quality of life). Inclui-se nessa seara, vida sexual sadia.
A vida, em todas as suas nuances, existe para ser admirada e desfrutada, sem preconceitos.
Um tema provocante, sempre!
(1) SILVA, V. X. L.; Marques, A. P. O.; LYRA, J.; MEDRADO, B., LEAL, M. C. C.; RAPOSO, M. C. F. Satisfação sexual entre homens idosos usuários da atenção primária. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 21, n. 1, p. 171-180, jan./mar. 2012.
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 2011
Reeditado em 25 e 26 de outubro de 2020 – 23h25 – 13h44