Da Praia do Flamengo ao Balneário da Urca
 
Não escondo minha fascinação pelos dados fáticos relacionados ao passado. Desta tendência, nasce a maioria dos meus textos. E é a este refrão que, pelas minhas aventuras ao maravilhoso mundo da pesquisa, encontro a crônica “Da praia do Flamengo ao Balneário da Urca”, assinada por Leão Padilha, que mostra a postura e a preferência dos banhistas da Praia do Flamengo, de Botafogo e do Balneário da Urca, no Rio de Janeiro, pela década de 20.
 
Transcrevo trecho do documento:
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“PRAIA DO FLAMENGO: Domingo de manhã, os banhistas do Flamengo chegam mais tarde do que os da Lapa e saem mais cedo do que os de Copacabana. Às 10 hs, aquele pedacinho de areia fica que nem formigueiro, cheio, muito cheio [...] Uma pequena faz maravilhas acrobáticas nos braços de um sportsman! Bóiam pares abraçados dentro de pneumáticos de automóveis... Na calçada vendem água doce para tirar o sal, o guarda-civil passeia para lá e para cá medindo a moralidade das roupas.
 
PRAIA DE BOTAFOGO: Pouca gente. Criadas e funcionários das quitandas de bairro aficionados do sport. O pessoal chic vai mostrar suas toilletes no Balneário da Urca, e deixa a Enseada tranquila para a criadagem que não teve tempo para tirar o pó do Flô do Abacate.
 
BALNEÁRIO DA URCA: Supra sumo do chic. Fora ficam os carros esquentando ao sol. Lá dentro aqueles 50 palmos de areia regurgitam... Em cima, dança, flirt e cocktail [...] Uma ‘jazz-band’ comunica tremura coreográficas aos corpos quentes [...] Lá embaixo há cubículos para trocar de roupa e outros misteres mais íntimos [...] a empresa não fiscaliza nem tampouco a polícia. Na areia senhoras respeitáveis, a julgar pela pintura e pelo volume, conversam coisas graves e fumando cigarros turcos. Rapazes ensinam ginástica a seco e dentro d’água. Mais tarde, o balneário perde esse aspecto familiar da manhã, o jazz-band ataca músicas mais frenéticas, os cocktails ganham ingredientes mais fortes e o ‘flirt’ é mais íntimo. Dentro da água ensina-se a nadar com menos inocência (...) fala-se alto [...] onde os rr franceses arrastam na gíria da moda, as exclamações das revistas alegres do Carlos Gomes e do Recreio [...] Não se ouve falar em cocaína, morfina ou ópio [...] PRAIA DAS VIRTUDES: No lencinho de areia perdido no mar [...] a promiscuidade é estonteante. A salada tem gosto de tudo – laranja de turco, cebola de português, macarrão de italiano, banana de brasileiro. Frequentam essa praia moradores da Lapa, Sta. Luzia e todas as pensões do Centro. E por fim. A praia do Caju: todos vão à praia e tomam o seu banho de areia, de sol e de água suja...”
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Encontro pontos em comum com os dias de hoje, das areias lotadas de gente à água suja. Deixando ao largo as vestimentas da época, o apotegma: "O presente repete o passado", parece novinho em folha.
 
REFERÊNCIA
 
PADILHA, Leão. Da praia do Flamengo ao Balneário da Urca. Rio Ilustrado, Rio de Janeiro, ano I, out./dez. 1928.
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz, Sílvia Mota e Leão Padilha
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 25/10/2020
Código do texto: T7096224
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