CACAU É BEM MAIS
CACAU É BEM MAIS
Quando me fiz entender, como letra de um texto inacabado, chamado vida humana, pude me ver inserido no capítulo que fala do cacau baiano.
Então, desde cedo, desfrutei de momentos sublimes, gozados em interstícios com o estar na caatinga, que foram os períodos lá dentro da Mata Atlântica, nas bordas dos relevos e aguadas de Itamari (BA), bem juntinho a Apuarema e Nova Ibiá, no distrito do Mineiro.
Naquela época, no desenrolar da ditadura militar que se instalou no Brasil, em 1964, pude crescer estudando em Jequié, mas passando momentos, quando não temporadas, na Fazenda Manguinho, de propriedade da família Silva Costa, que tinha como âncora o meu saudoso avô José Bento da Costa, seu Duda. Ali vivi, por breves momentos, numa casa de taipa, às margens de um córrego, com uma barragem, onde também avizinhava a um alambique, com roda-moinho e tudo o mais, além da plantação de cana ao lado. Lá se produzia a "Aguardente Bentinha", sob a tutela de meu pai Agnaldo, que tinha a alcunha de Moreno.
Num período em que as estações já se mostravam em dois momentos apenas, com um verão chuvoso e quente, além do inverno que mantinha o rigor das chuvas, mas com o frio que trazia a podridão parda para a cacauicultura, onde se buscava a sobrevivência, basicamente com o cacau e uma produção agregada de mandioca e banana, visto que as demais variedades de hortifruticultura eram para o consumo próprio.
Não havia o entendimento de que a região pudesse ser bem mais do que somente o espaço do cacau, seco em cochos e torrado em barcaças (num contraponto à secagem em taboleiro, que é mais rentável), em que ocorria o desperdício do mel e da polpa, sem falar nos subprodutos, biodigestores e a desassociação com outras atividades agropecuárias e florestais, que podem ter como exemplo a piscicultura, carcinicultura, suinocultura e a produção aviária, além da fruticultura de subsistência ou intensiva, a produção de mudas de essências nativas de madeiras nobres, introdução de novas culturas e a clonagem de cacau e outras plantas, de modo a melhorar a produtividade.
Então, vimos que o cacau é bem mais, podendo se manter como referencial para a região, mas também se mostrando catalizador de uma nova forma de convívio com a natureza, onde esta mesma natureza sobreviverá concomitantemente à nossa própria sobrevivência, sendo nosso guarda-sol e guarda-chuva, literalmente ou filosoficamente, alavancando o progresso econômico e social da Bahia com um olhar no futuro, lastreado por cada presente em que vivemos, com a sabedoria que os tempos contemporâneos proporcionam, através do conhecimento e tecnologia ecologicamente adequado.
Só assim, teremos a certeza da subsistência do bioma e da sociedade, usufruindo de tudo com equilíbrio e sapiência, num modo realmente apaixonado, que não destrói o que está bem feito, mas corrige os eventuais erros de nossos antepassados, enquanto nos beneficiamos da prosperidade.
Poeta Braga Costa ©2020 - Crônicas
CACAU É BEM MAIS
Quando me fiz entender, como letra de um texto inacabado, chamado vida humana, pude me ver inserido no capítulo que fala do cacau baiano.
Então, desde cedo, desfrutei de momentos sublimes, gozados em interstícios com o estar na caatinga, que foram os períodos lá dentro da Mata Atlântica, nas bordas dos relevos e aguadas de Itamari (BA), bem juntinho a Apuarema e Nova Ibiá, no distrito do Mineiro.
Naquela época, no desenrolar da ditadura militar que se instalou no Brasil, em 1964, pude crescer estudando em Jequié, mas passando momentos, quando não temporadas, na Fazenda Manguinho, de propriedade da família Silva Costa, que tinha como âncora o meu saudoso avô José Bento da Costa, seu Duda. Ali vivi, por breves momentos, numa casa de taipa, às margens de um córrego, com uma barragem, onde também avizinhava a um alambique, com roda-moinho e tudo o mais, além da plantação de cana ao lado. Lá se produzia a "Aguardente Bentinha", sob a tutela de meu pai Agnaldo, que tinha a alcunha de Moreno.
Num período em que as estações já se mostravam em dois momentos apenas, com um verão chuvoso e quente, além do inverno que mantinha o rigor das chuvas, mas com o frio que trazia a podridão parda para a cacauicultura, onde se buscava a sobrevivência, basicamente com o cacau e uma produção agregada de mandioca e banana, visto que as demais variedades de hortifruticultura eram para o consumo próprio.
Não havia o entendimento de que a região pudesse ser bem mais do que somente o espaço do cacau, seco em cochos e torrado em barcaças (num contraponto à secagem em taboleiro, que é mais rentável), em que ocorria o desperdício do mel e da polpa, sem falar nos subprodutos, biodigestores e a desassociação com outras atividades agropecuárias e florestais, que podem ter como exemplo a piscicultura, carcinicultura, suinocultura e a produção aviária, além da fruticultura de subsistência ou intensiva, a produção de mudas de essências nativas de madeiras nobres, introdução de novas culturas e a clonagem de cacau e outras plantas, de modo a melhorar a produtividade.
Então, vimos que o cacau é bem mais, podendo se manter como referencial para a região, mas também se mostrando catalizador de uma nova forma de convívio com a natureza, onde esta mesma natureza sobreviverá concomitantemente à nossa própria sobrevivência, sendo nosso guarda-sol e guarda-chuva, literalmente ou filosoficamente, alavancando o progresso econômico e social da Bahia com um olhar no futuro, lastreado por cada presente em que vivemos, com a sabedoria que os tempos contemporâneos proporcionam, através do conhecimento e tecnologia ecologicamente adequado.
Só assim, teremos a certeza da subsistência do bioma e da sociedade, usufruindo de tudo com equilíbrio e sapiência, num modo realmente apaixonado, que não destrói o que está bem feito, mas corrige os eventuais erros de nossos antepassados, enquanto nos beneficiamos da prosperidade.
Poeta Braga Costa ©2020 - Crônicas