LÁ ELE NAO DESCE
Ele olhava a janela: via prédios e luzes. Um Cristo redentor brilhava no alto da serra.
Quando era pequeno viajando de carro com seus tios, espantou-se quando a tia falou: Olha lá o Cristo! Então pensou: Incrível! Ele desce aqui. Vem direto do céu e fica voando pela cidade. La na nossa terra ele não desce. Será que é ele mesmo? O Senhor poderoso descendo por aí... Nossa como é bonito e brilhante!
E o Cristo era um espectro de luz abrindo os braços iluminados sobre a cidade. Bem maior do que é agora. Divino poderoso descendo dos céus nessa terra privilegiada. La não tem isso não!
Agora olhando aquela cidade sentia-se desolado e tenso. E deixou-se ser invadido por acontecimentos memoráveis ali vividos. Momentos que não poderá esquecer. Quanta coisa aconteceu desde a descoberta daquele Cristo poderoso! O antes verdadeiro agora estátua. Decepções, alegrias, sonhos , amadurecimento. Uma vida se passou, uma vida incrustada entre aquele Cristo e esse de agora.
Sentia-se velho e preterido pela vida. Tudo ficou no passado não era mais o mesmo. Ah que saudosismo besta! pensou: o importante é o agora. O Cristo abria seus braços para ele enquanto a melancolia fechava os dela em volta do seu pescoço e o apertava com o aperto dos velhos amigos. Sufocante abraço presenciado pelo Cristo acolhedor e iluminado pelas tristes luzes da madrugada naquela cidade.
Desça Cristo e socorra-me. O Cristo continuava lá, quietinho em cima da serra...