JÃO DA ESTELA

Meu amigo “Sô Jão” tem setenta e cinco anos e a namorada dele vinte e dois.

Ele não pode evitar que as más línguas bifurcadas lancem sobre essa relação algumas golfadas de veneno cristalino. O veneno da maledicência que mora em muitos corações e se espalha por aí. Mas isso não importa, deixem que falem, importa apenas o amor e talvez um pouco de pesar pelo dinheiro gasto com a moça. E fica horas cogitando o porquê das visitas da amada acontecerem principalmente no dia do recebimento da sua aposentadoria estendendo-se pelo tempo em que se estende o dinheiro na carteira. Mas isso é apenas um detalhe. Deixem que falem. Esse povo fofoqueiro!

Quanto ao sexo, diz usar certo artificio azul, dia sim e outro também. Fala muito disso, conta bravatas da noite anterior fazendo gestos com as mãos. Com os dedos da mão esquerda faz um círculo com o polegar e indicador e introduz o indicador da mão direita, que talvez por causa de uma artrose ou coisa assim é torto, no círculo, fazendo movimentos de vai e vem, exaltando assim sua brilhante e azulíssima performance.

Um dia ele disse que sua namorada era Estela, mas eu não entendi muito bem, e perguntei para confirmar, pois sabia que esse não era o nome dela. Então ele me explicou que Estela era uma mulher que não pegava fio (filho). Então entendi.

E me jurou que o sexo vem da cabeça. Eu perguntei confuso como isso funcionava e ele com ares de profundo conhecedor do assunto me explicou:

-Na hora que a gente está fazendo a coisa, dá um trem na cabeça, um estalo e então a coisa desce. O leite derrama pra baixo. Ele vai se ajuntando ali no “cerbro” e cai na hora certa. Enquanto me dava aula de sexologia deixava escapar gargalhadas de satisfação, talvez pelo seu vasto conhecimento do assunto ou talvez pela lembrança do prazer sentido.

Ê trem bão! Falava com aquele gosto!

E eu então entendi as vistas grossas para a falação do povo e entendi também por que não se importar com o fato de faltar mês ao final no pagamento.

Amor, coisas do amor, que os ignorantes e maledicentes não conseguem entender.